Antes de tudo, gostaria
de dizer que ao invés de matéria, este texto é um artigo. Um artigo no qual me
coloco em defesa dos servidores públicos municipais. Meu intuito era fazer uma
matéria na qual eu me colocaria numa posição neutra e deixar as opiniões apenas
do sindicato, do prefeito e do presidente da Câmara dos vereadores. Mas somente
o presidente da Câmara respondeu às minhas perguntas.
Antes de eu colocar
aqui as minhas opiniões, vou demonstrar a entrevista que realizei com o
vereador Nenê do Supermercado. Outros vereadores eu procurei para ceder
entrevista, porém quando eu disse de qual assunto se tratava me deixaram no
vácuo. Foi como se eu tivesse falado de Jesus Cristo ao Capeta. Pois bem,
lembrarei disso nas eleições. Abaixo, a entrevista com o vereador Nenê.
Danilo
Santos:
Primeiramente
gostaria de agradecer pela entrevista que me concede. Bom, no último dia 28
participei da reunião do sindicato dos servidores públicos e pude colher deles
algumas reivindicações. As auxiliares escolares, por exemplo, reivindicam o
pagamento do triênio e do qüinqüênio. Por mais que haja reajuste salarial, sem
esses direitos o valor que elas recebem sempre ficará defasado, principalmente
se compararmos com o que recebem os contratados. O que a Câmara tem discutido a
respeito dessa situação?
Nenê do Supermercado: A Câmara não se exime desta
responsabilidade e no papel de representante do povo já se manifestou junto ao
Executivo quanto a esta questão, e em
reunião com o executivo e vereadores e também as auxiliares escolares e os
funcionários da obra também na mesma situação ficou acordado que o prefeito
iria rever estas situações e no mais rápido possível resolver tal situação,
porém, de acordo com a prefeitura ela não tem recursos para arcar com este impacto financeiro no
momento, no entanto se prontifica a rever a situação já que também tem
interesse em resolver esta justa reivindicação de anos dos servidores. Por
outro lado, mesmo a Câmara estando atenta, a execução de tal demanda não é
pertinente do Legislativo e sim do Executivo.
Danilo
Santos: O Estatuto do Servidor Público é da
década de 1970, portanto, totalmente inviável à Constituição de 1988. A Câmara
já cogitou retificá-lo?
Nenê
do Supermercado: A
retificação do Estatuto do Servidor Público não depende de uma decisão
unilateral do Legislativo, mas de toda uma mobilização entre os poderes em
conjunto com os servidores.
Danilo
Santos:
A
Câmara já pensou em discutir a questão do desenvolvimento do Plano de Carreira
das auxiliares escolares? Pelo que percebi, ele é falho e precisa de
modificações.
Nenê
do Supermercado: O
desenvolvimento do Plano de Carreira das auxiliares escolares, sua iniciativa
tanto de revisão quanto de criação compete ao Executivo, o que não impede de
ser discutido por Esta Casa quando e se for apresentado.
Danilo
Santos:
Como
tem sido a relação da Câmara com o sindicato dos servidores no que diz respeito
à luta pelos direitos trabalhistas e melhores condições de trabalho? Pelo menos
algum dos vereadores se interessa por participar das reuniões do sindicato ou
procura conhecer a real situação do servidor público de Camanducaia?
Nenê
do Supermercado:
O
sindicato iniciou seus trabalhos recentemente e nunca foi solicitado a presença de algum vereador
em suas reuniões. Não só um ou outro vereador, mas a Câmara num todo se
interessa pela atual situação do servidor sim, e está aberta para auxiliar em
suas reivindicações junto ao Executivo, desde que justas.
Danilo
Santos: Muito obrigado pela entrevista, Nenê!
Esperamos sempre contar com a sua opinião.
Como vocês puderam ler
nas palavras do vereador, o Executivo “vai” rever a situação dos servidores.
Não estou desacreditando, mas devemos acabar com a mania em Camanducaia de que
tudo vai se resolver no futuro e nunca se resolve. Entra prefeito, sai prefeito,
é tudo a mesma novela. E o maior absurdo, na minha opinião, é a de que a
prefeitura não tem condições de andar em dia com os direitos dos servidores!
Direito é direito! Como que para os servidores que ganham pouco mais que
salário mínimo seus direitos são inviáveis aos cofres públicos, porém para
vereadores, prefeitos e secretários os direitos andam em dia? Em menos de dois
anos eles tiveram 40% de aumento, mais benefícios absurdos como gratificação
natalina, que nada mais é que um eufemismo para 13º salário. Para resguardar os
direitos deles não há empecilhos no orçamento. Muito bacana isso.
O caso de muitas
auxiliares escolares e de creches, por exemplo, elas reivindicam direitos básicos
como triênio e qüinqüênio. Cabe ressaltar que servidores efetivados que
passaram em concursos, não estão sujeitos à CLT (Constituição das Leis
Trabalhistas). Isso quer dizer que uma das únicas garantias pelas quais eles
têm um pouco a mais no salário, é o triênio e quinquênio. Sem essas garantias,
os reajustes acabam sendo medidas que não atendem as verdadeiras necessidades
dos servidores, já que na prática o salário que recebem acaba ficando defasado.
Para constar isso, basta comparar os holerites de servidores contratados com os
dos servidores concursados. Por exemplo, um servidor contratado acaba ganhando
o mesmo que um servidor concursado, mesmo ocupando a mesma função e tendo menos
tempo de serviço.
Minha intenção não é
criar atritos entre servidores contratados e concursados. Apenas estou
comparando as distintas situações para compreendermos a situação de quem está a
mais de 5 e 10 anos trabalhando sem ter os devidos direitos garantidos.
Agora eu gostaria de
fazer umas indagações. Se não é possível aos cofres públicos garantir de
imediato o triênio e o qüinqüênio de todos os servidores, por que é possível
aos cofres públicos contratar adoidado e ainda garantir aos contratados os
mesmos salários dos efetivados? Quais as artimanhas usadas para se fazer esta
mágica? Não falo apenas desta administração, mas da arcaica política histórica-administrativa
camanducaiense. São problemas que não devemos deixar para o futuro. Temos que
resolver agora, pois em Camanducaia o futuro é utópico.
Eu tenho algumas
hipóteses. Consegui dois holerites para comparar a situação. Os dois holerites
são de servidores concursados, sendo um servidor com 2 anos de tempo e o outro
com mais de 5. Um recebe o qüinqüênio e o outro recebe um tal de “complemento”.
O complemento, dizem que é para que o servidor não ganhe menos que o salário
mínimo, já que por lei ninguém pode ganhar abaixo do mínimo. Mas será que se
andássemos em dia com os direitos dos servidores esses complementos seriam
necessários? E será que o pagamento desses complementos não seria em detrimento
do pagamento do triênio de outros servidores? Não sei responder, pois sou leigo
em assuntos contábeis. Os que poderiam sanar as minhas dúvidas acabaram não
respondendo as minhas perguntas.
Outra reivindicação das
auxiliares escolares é a questão de ter que trabalharem em junho, enquanto as
pedagogas sairão de férias. O que me chama a atenção é que as auxiliares de
creches, por exemplo, não podem ocupar a função de pedagogas. Isso seria desvio
de função. Mas infelizmente é isso que vem acontecendo nas creches,
principalmente à tarde. Muitas auxiliares, na ausência das professoras, fazem a
função das pedagogas porque se sentem “valorizadas”. Infelizmente muitas
auxiliares pensam assim, sem passar pela cabeça que estão fazendo uma função de
profissionais que ganham mais do que elas. Na prática isso é benéfico para a
prefeitura, pois não precisaria contratar mais professoras. Para que contratar
profissionais para cargos que exigem curso superior, se pessoas com o Ensino
Fundamental estão fazendo o mesmo serviço e ganhando menos? Não seria um caso
para os Excelentíssimos vereadores estarem averiguando?
Não sou adivinho, mas
acredito que o Executivo já tenha pensado na hipótese de as auxiliares não
quererem fazer as funções das professoras durante a Copa. Qual seria a solução?
Colocar as contratadas no lugar das efetivadas. Pimba! Isso resolveria o
problema. Ninguém vai se rebelar.
Para encerrar,
apresentarei a minha opinião sobre as medidas que devem ser tomadas pra agora e
não para o futuro. Em primeiro lugar, há que se formular outro Estatuto do
Servidor Público. O nosso é da década de 1970, portanto, inviável à
Constituição de 1988. O Estatuto é uma das principais garantias do servidor e
sem ele estar atualizado, o servidor fica sem muitas alternativas de luta. Sua
luta se torna mais burocrática sem o Estatuto. E neste quesito que se refere ao
Estatuto, o vereador Nenê está certo. Há que se juntar os servidores,
vereadores e prefeito para fazer um novo Estatuto. Mas o que eu percebo de
problema é a falta de vontade política. Nem servidores, nem prefeito e nem
vereadores correm atrás para formularem outro Estatuto. Isso há mais de 40
anos!!
Mais do que formular
outro Estatuto, os servidores precisam se unir, se informar, conhecer os seus
direitos básicos para que não sejam massa de manobra. Não pode se calar diante das
injustiças e unidos o grito é mais retumbante. É a desunião dos servidores a
sua maior fraqueza.