quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A SAÚDE PÚBLICA E A SÍNDROME DO "NÃO SEI" EM CAMANDUCAIA

Quando falamos em problemas com a saúde pública, o nosso cérebro automaticamente nos lança a resposta da causa: dinheiro. É o que sempre ouvimos dos políticos; se a saúde pública vai mal das pernas, é por falta de dinheiro. Pois bem, hoje falaremos de um problema maior e que já é epidemia aqui em Camanducaia: a Síndrome do “Não Sei”. A ironia é que tal epidemia afetou apenas os nossos vereadores. Justo eles!
Na teoria, é sabido que o papel do vereador é fiscalizar as ações do Executivo. O papel do vereador é levar a sua e a minha voz à oficialidade do poder. O vereador, mais do que qualquer outro agente social, tem o dever e a obrigação de visitar todos os setores públicos, em especificamente aqui me refiro aos hospitais e postos de saúde. Infelizmente os nossos vereadores não fazem isso. Por isso a Síndrome do “Não Sei” está disseminada em nosso meio político. Os vereadores não sabem, por exemplo, que médicos e enfermeiros não cumprem corretamente o plantão nos postos de saúde, porém recebem muito bem pelas horas que não trabalham. Os vereadores não sabem que faltam remédios e até outros itens básicos, como fitas glicêmicas, chegando ao cúmulo de uma paciente quase enfartando tendo que levar da própria casa para que recebesse um atendimento adequado.
Isso que estou lhes expondo não é invenção, não é uma historinha de ficção científica. É a realidade cotidiana nos postos de saúde. É parte de relatos de cidadãos que estiveram presentes na reunião da Câmara, no dia 03 de outubro de 2013. Eu estive presente pela primeira vez a uma reunião da nova legislatura. Fui à reunião justamente para acompanhar as reivindicações de moradores de Monte Verde, entre os quais estavam alguns parentes de cidadãos que morreram por omissão de socorro no posto de saúde do Distrito. Poderíamos ter evitado a morte desses cidadãos? Sim. Poderíamos ter evitado ao cobrar dos nossos vereadores para que eles cumpram com os deveres para os quais são muito bem pagos para executar, pois se eles fiscalizassem como “manda o Benedito”, haveria médico no posto de saúde quando um homem sofreu um enfarte. Bom, vamos expor os fatos.
Fez uso da tribuna livre o cidadão Vicente Forlenza Neto. Cidadão muito conhecido e polêmico, Vicente é odiado no meio político. Não quero aqui fazer uma análise moral deste cidadão, mas admito que concordo 100% com a postura tomada por ele na última reunião. Ele serviu de porta-voz dos familiares dos cidadãos que perderam seus entes queridos pela omissão de socorro. Vicente expôs os problemas dos postos de saúde, como eu disse, dos quais os vereadores nem fazem questão de saber que existem. Enquanto Vicente fazia sua explanação, alguns vereadores, demonstrando total indiferença, assinavam papéis, mexiam nos papéis, nas canetas e etc. Só não jogaram dominó porque deve ser proibido na Casa de Leis. Atrás do Vicente estavam os familiares dos falecidos.
Vicente começou sua explanação dando ênfase na questão orçamentária e financeira. Não vou falar disso aqui porque quero mostrar apenas a parte principal da questão. Vicente relatou o seguinte:
Em Camanducaia, recentemente faleceu a Sra Alcídia Siqueira da Silva, no dia 18/09/2013. Segundo relatos da família, a dona Alcídia começou a passar mal. Imediatamente solicitaram a presença de uma ambulância. Ao chegar à ambulância, a enfermeira pegou no pulso da dona Alcídia. Estranhamente, a enfermeira disse à família que voltaria em seguida e nunca mais compareceu. Depois de um tempo os familiares, desesperados, novamente entraram em contato com a Santa Casa, que informou não dispor de ambulância. A senhora veio a óbito e ficou por isso mesmo.
Depois Vicente relatou outro caso:
No dia 8 de setembro, a Sra. Noêmia Palma foi chamada, pois seu pai se queixava de fortes dores e seu irmão disse a ela que já havia solicitado uma remoção via ambulância, e a Santa Casa informou que não dispunha de nenhuma! Um atendente do hospital informou à Sra. Noêmia que ligasse ao almoxarifado da prefeitura, pois lá encontraria a enfermeira chefe e somente ela poderia autorizar ou não a liberação de um transporte! Após contatar um rapaz no almoxarifado e receber um monte de desculpas, resolveu apelar para uma vizinha e resolveu a questão do pai, transportando-o até à Santa Casa. Estranhamente dia 8 de setembro era um domingo! A prefeitura repassa mais de 100 mil [ 160 mil por mês] Reais por mês à Santa Casa para os doentes e enfermos receberem este tipo de tratamento? Está certo isso?? Esta Casa concorda com isso?? Enfermeira no almoxarifado em pleno domingo?? Ou ela não estava de serviço??
Depois Vicente relatou sobre uma gestante que fora mal diagnosticada e teve que ser levada às pressas pelos próprios familiares à Extrema, onde deu à luz duas horas depois de um médico em Camanducaia ter-lhe dito que retornasse sete dias depois. Para o médico daqui, as dores eram decorrentes de uma infecção, e não do prenúncio do parto. Depois metem o pau nos médicos cubanos! Lembrando que tudo o que Vicente relatou foi corroborado pelas testemunhas ali presentes, por pessoas as quais o tinha como seu porta-voz. Vicente também falou da falta de conhecimento do chefe de gabinete e da Secretária de Saúde em relação ao não funcionamento do compressor usado pelo dentista do posto de saúde de Monte Verde, que está inativo há 12 meses. Comunicação, eis um dos grandes problemas. Como pode nem prefeito, nem vereador e nem secretário de saúde ficar sabendo dessas coisas? Eu mesmo, ao ter conhecimento desses problemas dias antes da reunião, falei com o chefe de gabinete e lhe sugeri uma reunião com os funcionários dos PSF’s, já que muita coisa não está sendo corretamente filtrada para o prefeito e secretário de saúde. Como pode um médico não cumprir o plantão e não sofrer nenhuma punição? Até quando isso vai acontecer?
Dando continuidade, Vicente relatou mais um caso que infelizmente veio a óbito.
(...) Mas aí o esperado acontece! Um crime anunciado se concretizou! Crime este rotulado por omissão de socorro, por falta de médico de plantão, falta de uma enfermeira chefe, e falta de coordenadora de saúde. Estas informações são da família do Sr. Israel Nogueira de Macedo, que faleceu no último dia 27 nas dependências do PS de Monte Verde. Ele deu entrada no PS por volta das 11:40h e 2 horas depois ele morre nos braços de um desesperado filho, por falta de um médico para atender, sem a presença de uma enfermeira chefe para medicá-lo ou fazer uso de um desfibrilador e muito menos da coordenadora que NUNCA providenciou substitutos para os faltosos! A própria coordenadora só apareceu no PS por volta das 16:00h, pouco antes da chegada dos policiais militares que confeccionaram o BO na presença do filho do falecido, o Sr. Josmar Nogueira de Macedo.
Depois Vicente falou da justificativa da médica que faltou, na qual ela alegou ter sofrido uma queda e ter passado por uma cirurgia, mas sem antes avisar a coordenadora que acabou não providenciando um substituto. Segundo moradores de Monte Verde, a própria coordenadora pouco fica no PS.
Vicente falou da pouca importância dada à saúde, comparando com outros quesitos, como obras e eventos festivos. Assim que terminou a explanação do Vicente, o Presidente da Câmara passou a palavra para algum vereador que quisesse comentar, e o que percebi foi o total despreparo de todos os vereadores ali presentes para tratar de um assunto tão sério. Assim que o Presidente perguntou se alguém queria falar alguma coisa, o silêncio tomou conta; quase dava pra ouvir os grilos cantando lá fora. Eis que a vereadora Tânia tomou a palavra. Ela lamentou perante os familiares das vítimas e falou resumidamente, usando o famoso gerúndio no meio político, que é quando ouvimos coisas do tipo: “Estaremos providenciando”; tudo com “ando”. O presente não tem vez no meio político. Só se vive para o futuro, por isso somos afetados por outra síndrome: a Síndrome do Gerúndio. A vereadora falou de um projeto que está para ser concretizado, no qual haveria uma parceria entre prefeitura e Associação Beneficente de Monte Verde (ABMV). Uma parceria entre o setor privado e público. Bom, para quem quiser ficar mais por dentro, sugiro que procure a vereadora para uma explicação mais detalhada, já que ela própria não estava muito por dentro de como o projeto vai funcionar. É a Síndrome do Não Sei e do Gerúndio aqui presentes.
Para concluir, não poderia deixar de citar aqui mais um exemplo de indiferença dos vereadores para com as pessoas que estavam ali presentes. Após a vereadora Tânia fazer sua explanação, o Presidente simplesmente disse: “Vamos abordar outro assunto.” Pronto, aí foi “The End”. Nem os familiares das vítimas não entenderam, pois são pessoas que não estão acostumadas com a burocracia e o corporativismo existente na alma dos nossos políticos. O assunto se encerrou, pois mais nenhum vereador teve massa cerebral suficiente para opinar. Como eu já freqüentei muitas reuniões da Câmara, posso lhes dizer que um vereador dificilmente é o que diz ser fora da Casa de Leis. Aqui fora passa a imagem de ser batalhador das causas sociais, altruísta, mas lá dentro... lá dentro é um corporativo, como se fosse uma máquina. Pois foi isso que presenciei nesta reunião. Pessoas sendo tratadas com indiferença pelos vereadores.
Quero deixar bem claro que este meu artigo não tem como fim fazer nenhuma politicagem. Neste artigo eu não sou de oposição e nem da posição. Neste artigo sou um homem revoltado com o sistema. O conselho que dou a todos os leitores, é que cobrem seus direitos. Façam com que vereadores, prefeito e secretários cumpram com seus deveres. Cobrem! Vocês mesmos podem fiscalizar. Para isso vocês têm que conhecer seus direitos. Abaixo, disponibilizo um link de um artigo que escrevi sobre os direitos que você tem. Muito obrigado a todos!  




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O COMBATE ÀS DROGAS EM CAMANDUCAIA: ENTREVISTA COM O POLICIAL MATHEUS PEREIRA GUIMARÃES

Na matéria anterior, sobre drogas, entrevistamos João Blota, o homem que venceu a luta contra o Crack. Autor de um livro autobiográfico, João Blota é uma das raras exceções de pessoas que conseguem vencer o vício depois de já estarem no fundo do poço. Como ele bem disse na entrevista, o problema com a droga só muda de endereço e personagem. A droga atinge todas as classes sociais. O tráfico é um dos negócios mais lucrativos do mundo, financiando poderes paralelos, como facções criminosas e terroristas mundo afora.

Há quem diga que a descriminalização da droga acabaria com esses poderes paralelos. Em alguns países, como Holanda e EUA, a maconha, por exemplo, já é encontrada em comércios legalizados. Na Holanda pode-se fumar um baseado tranquilamente e nos EUA há até refrigerantes da erva. Mas a pergunta é: será que a droga só produz o traficante? Não. A droga, mesmo sem o traficante, produz a dependência e o inferno de quem a usa. Dependência psíquica e física. A droga destrói casamentos, destrói a relação de pais e filhos, destrói a família. Não precisamos de dados estatísticos para constatar os males que a droga causa. Basta ter contato com um aluno- como eu já tive durante estágios na escola- usuário de maconha. Sua capacidade cognitiva decresce, seu raciocínio fica lento. Basta ter contato com um aluno que perdeu a mãe que era usuária de crack, e ver em seus olhos a tristeza em não ter mais os pais por perto. Tudo por conta de uma pedrinha feita com um pozinho branco.

Só quem convive com viciados sabe os males que a droga causa. Não precisamos das armas do traficante para transformarmos o mundo num caos. Basta apenas distribuir legalmente os pós e as ervas da morte. Ao fazermos isso, lotaremos as clínicas de dependentes químicos, deixaremos milhares e milhares de crianças órfãs, criaremos uma sociedade escravizada na sua própria mente. Uma sociedade que trocará o dia pela noite, em que de dia dormirá e à noite vai cheirar os pós e as ervas da morte. Imagine um mundo onde a droga seja encontrada em supermercados e farmácias. Pense nisso.

Hoje entrevistaremos o policial Matheus Pereira Guimarães. Matheus é escrivão na Delegacia de Polícia Civil de Camanducaia, mas também realiza interrogatórios quando o delegado não o faz. Procuraremos compreender o problema das drogas na visão de um agente social que tem como finalidade combater atos ilícitos, como o tráfico.

DANILO SANTOS: Matheus, primeiramente obrigado por estar me cedendo esta entrevista. Nossa intenção é levar informação às pessoas que convivem com os problemas ocasionados pelas drogas. Bom, para iniciar, gostaria de saber se no seu cotidiano de trabalho aparecem muitos casos de sujeitos envolvidos com o tráfico de drogas aqui em Camanducaia.

MATHEUS GUIMARÃES: Bom dia Danilo. Eu que agradeço a oportunidade de contribuir de alguma forma com um tema imensamente sério que atinge todas as camadas de nossa sociedade e gera grande impacto, de uma forma ou outra, sobre todos nós. Sim. Há muitos indivíduos envolvidos com o tráfico de drogas, não sendo raras as ocorrências neste sentido, geralmente envolvendo adolescentes, facilmente atraídos para o tráfico pela inimputabilidade que lhes é conferida pela legislação penal, por estarem em uma fase em que se encontram mais suscetíveis a novas experiências, positivas ou negativas, sendo facilmente “convencidos” pelos verdadeiros traficantes e pela relativa rentabilidade conferida pelo tráfico de drogas. Há, contudo, pelo menos em Camanducaia, poucos traficantes de maior porte, que fazem do tráfico de drogas uma escolha de vida e, ainda assim, não possuem nenhum poder financeiro e militar, como ocorre nas grandes cidades metropolitanas. O que se tem é uma imensa gama de pequenos traficantes, fato que facilita a disseminação das drogas e dificulta o trabalho da polícia.

DANILO SANTOS: Durante o meu período de estágio nas escolas, pude testemunhar a facilidade com que as drogas entram nessas instituições. Ao questionar os professores sobre isso, eles me diziam que não tomavam nenhuma iniciativa por medo de represálias por parte dos traficantes. Por acaso no seu trabalho aparecem casos de problemas com drogas em escolas? Cite os problemas e as drogas mais comuns em ralação ao espaço escolar.

MATHEUS GUIMARÃES: Sim. Infelizmente os jovens estão tendo contato cada vez mais cedo com as drogas e, para muitos, o primeiro contato ocorre justamente nas escolas. Começam a fazer uso de maconha, posteriormente ingressam no uso da cocaína e, na pior das hipóteses, tornam-se viciados em crack. Assim sendo, embora ainda seja pequeno o uso e venda de drogas nas escolas, comparando com toda a gama de ocorrências relacionadas à entorpecentes, este número vem crescendo cada vez mais. Há de se frisar que somente uma parcela dos casos de drogas nas escolas efetivamente chegam ao conhecimento da polícia, o que não é diferente nos demais casos de tráfico de drogas. 

DANILO SANTOS: Você poderia nos citar quais os espaços urbanos mais comuns aqui em Camanducaia onde se dão a maioria das ocorrências relacionadas às drogas? O que você sugere para sanar o problema?

MATHEUS GUIMARÃES: Os maiores pontos situam-se nas proximidades do “Bar do Moraes”, da “Lanchonete Nova Era”, do “Bar do Gaúcho” e nas tradicionais zonas periféricas da cidade: Bairro do Cruzeiro, Cemitério e da Uzina. Sugiro a instalação de câmeras de segurança em locais estratégicos, conhecidos pela venda e consumo de drogas, como medida preventiva, além de mais iluminação; maior rigor da Prefeitura Municipal no momento de concessão do alvará de funcionamento em estabelecimento em que é popularmente sabida a ocorrência de venda e consumo de drogas e; maior efetividade por parte da Polícia Militar na prevenção e fiscalização dos aludidos locais e da Polícia Civil na investigação dos crimes relacionados a entorpecentes; realização de campanhas de conscientização das polícias Civil e Militar e do poder público executivo, principalmente nas escolas.

DANILO SANTOS: As festas “raves” são muito conhecidas pelo alto consumo de cocaína e ecstasy. Aqui em Camanducaia são raras, porém já foram realizadas algumas. São festas nas quais o uso do ecstasy e cocaína faz com que o sujeito beba grande quantidade de água e bebidas alcoólicas, favorecendo assim lucros para os organizadores dessas festas. Neste sentido, a polícia toma alguma iniciativa em relação à fiscalização? Essa fiscalização se dá antes, durante ou depois do evento?

MATHEUS GUIMARÃES: É dever da polícia e dos órgãos do poder executivo realizarem a fiscalização antes, durante e depois do evento na seguinte lógica: A prefeitura municipal e o corpo de bombeiros analisam se estão presentes todos os requisitos legais e de segurança, a Polícia Militar realiza o trabalho ostensivo, preventivo fardado, para evitar a ocorrência de infrações durante o evento e a Polícia Civil realiza o trabalho de investigação, após a ocorrência do evento, de fatos de interesse criminal. Como eu conheço apenas uma festa Rave que se deu aqui em Camanducaia, antes do período em que ingressei na Polícia Civil, não sei informar se essa fiscalização realmente ocorreu.

DANILO SANTOS: Durante a sua formação na polícia, você teve treinamento para reconhecer sujeitos suspeitos de envolvimento com o tráfico ou como usuários. Você poderia citar algumas dicas sobre isso, com o intuito de informar os pais e a sociedade? Quais são as pistas encontradas tanto em sujeitos que traficam como em usuários?

MATHEUS GUIMARÃES: Os suspeitos, na visão da polícia, são pessoas que costumam freqüentar locais conhecidos como ponto de tráfico de drogas, que já tenham passagem pela polícia, que se comportam com “nervosismo excessivo” com a presença da polícia e que não estejam trabalhando, embora muitos traficantes têm o tráfico como fonte de renda secundária. Quanto aos sinais característicos dos usuários, depende da droga que estão usando. Embora não haja fórmula precisa, os sinais são observados, sobretudo, na mudança de comportamento, que como já dito depende do tipo e quantidade de droga consumida. De maneira geral passam a ter como amigos pessoas com envolvimento com o tráfico ou consumo de drogas, valendo a máxima popular “diga com quem tu andas que eu te direi quem tu és”; também freqüentam locais de uso e tráfico de drogas e se apresentam nervosos na presença da polícia (quando estão portando drogas para consumo); tornam-se dispersos e com pouca capacidade de concentração (uso de maconha) ou agressivos e agitados (uso de crack e cocaína). Os usuários de “crack”, droga altamente viciante e barata, já difundida em todas cidades brasileiras, além da pouca capacidade de concentração, agressividade, agitação, começam a perder peso, pois a droga tira a fome, e quase na totalidade dos casos, praticam pequenos furtos para sustentarem o vício, que se iniciam na própria residência do usuário. Como os sinais podem ser extremamente sutis cabe aos pais ficarem atentos às mudanças repentinas de comportamento de seus filhos, sobretudo na adolescência.

DANILO SANTOS: Em caso de suspeita de tráfico nas nossas ruas, como devemos proceder ao denunciar sem sofrermos represálias por parte dos traficantes? A nossa identidade é protegida pela polícia?

MATHEUS GUIMARÃES: Existe o telefone 181 do Disque Denúncia, em que é possível a notificação do fato criminoso sem a necessidade de identificação. Também é possível procurar a Polícia Civil e solicitar o sigilo, em uma conversa informal, no momento em que se noticia o fato criminoso. Esta “denúncia anônima” permite que os policiais civis passem a investigar o suposto traficante através de diligências preliminares, que pode ocasionar em Inquérito Policial. Também é possível que a informação seja levada informalmente à Polícia Militar, que dará mais “atenção” ao suposto traficante, dando busca pessoal se conveniente.

DANILO SANTOS: Matheus, muito obrigado pela entrevista que nos cedeu. Muito obrigado também à Polícia Civil de Camanducaia, que te autorizou a nos passar essas informações.

MATHUES GUIMARÃES: O prazer foi meu Danilo. Estou à disposição para maiores questionamentos.

LINK INDICADO PELO ENTREVISTADO:


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ENTREVISTA COM JOÃO BLOTA, O HOMEM QUE VENCEU A LUTA CONTRA O CRACK

O mundo das drogas é desesperador, um inferno. Só para quem convive com pessoas que são viciadas podem perceber que o uso de drogas não é tão inofensivo como alguns segmentos da indústria cultural e até movimentos pró-drogas querem nos passar. A droga não destrói somente o indivíduo viciado. Destrói também sua família e amigos. 
No começo, tudo parece diversão. Você vai numa festinha e vê seus amigos falando da “brisa louca”, do “bagulho da hora” que é dar um “teco num baseado”. Ou eles te falam também do barato que é cheirar algum produto que te dá a sensação de prazer, que te dá a capacidade de ficar na “nóia”. Você começa a usar, como se essas drogas não fossem causar nenhuma diferença na sua personalidade.
Você começa a se enturmar com os caras descolados, que te oferecem a droga. Se você não usa, passa a ser considerado um careta. Aí você começa a se influenciar pela indústria cultural. Se aquele rockeiro da minha banda favorita usava, por que eu não posso usar? Ele fazia músicas chapadas, muito loucas porque estava sob o efeito da maconha, ou da cocaína, ou da LSD e etc. Você começa a imaginar: “Que chapado seria ouvir um reggae estando na brisa!” Aliado ao incentivo corrompido da indústria cultural e dos “amigos”, você começa a dar uns “tecos”.
Aí você lê nos jornais que para se acabar com o crime é preciso descriminalizar o uso de drogas. Afinal de contas, há correntes de pensamentos que dizem que você é livre e pode usar o que quiser. Com a droga liberada, segundo essas correntes, não haveria o traficante, pois você encontraria a droga em qualquer comércio legalizado. Não haveria crime. Pois bem, esse pensamento parece muito inofensivo, mas como eu disse, é preciso conviver com pessoas que são livres para consumir, mas são escravas do consumo. São dependentes de produtos que lhes escravizam na alma, que lhes tiram o apetite, que lhes faz ficar violentas, que lhes faz sentir dor. Desse tipo de “liberdade” nenhuma corrente de pensamento pró-droga fala. Por isso conheceremos um pouco da vida de João Blota, o homem que venceu a luta contra o crack.
João Blota é autor do livro nóia, o poder tentador de nossas fraquezas. O livro é narrado em primeira pessoa, porém quem se encarregou de escrever as memórias de João Blota foi Rafael Junior. João Blota nos conta toda a sua vida, desde a infância até a vitória contra o vício. Foram 13 anos de uso contínuo dos mais variados tipos de drogas.
Nascido em janeiro de 1975, em São Paulo, João Blota começou a usar droga aos nove anos de idade. Por influência de um menino de 15 anos, cheirou benzina. Despejou um pouco do produto numa toalha e cheirou no banheiro. Gostou da sensação, da “nóia”. A partir da primeira experiência, começou a cheirar todos os dias. Como desculpa, pedia benzina para os familiares, dizendo que era para limpar cabeçotes de vídeo K7. Pronto, João poderia ficar na nóia quando quisesse e com uma boa justificativa: limpar os cabeçotes.
João não estava satisfeito. Queria experimentar outras drogas. Queria ser um viajante do mundo das “nóias”. Cheirava tudo pela frente, na busca de alucinações. No livro, João descreve as alucinações nos seus mínimos detalhes. Fala também da sua mudança de comportamento já no início do uso. Era um menino que vivia no banheiro e no quarto se drogando. Ele enfatiza também o vacilo da família, que não percebeu logo no início.
João foi evoluindo em relação ao uso das drogas, partindo dos produtos de limpeza, passando pela maconha, cocaína, álcool e muitas outras, até chegar na droga pela que se apaixonou: o crack. Fala também do cotidiano na escola, onde teve acesso aos “amigos” que o ajudaram no desenvolvimento da sua derrocada. Foi pela influência e contato com esses “amigos” que João teve acesso à “bocada” dos traficantes na favela, lugar onde passaria a fazer parte do seu cotidiano. Passou a trocar o dia pela noite. De dia, dormia e de noite ia para as festas em casas de jovens de classe média, onde o consumo de cocaína e demais drogas era liberado. Relata também como percebia o sumiço dos móveis dessas casas. Móveis trocados por drogas pelo dono.
Viciado em crack, João também passou a roubar pertences de casa para trocar na bocada. Nem roupas tinha mais. Começou a andar todo desleixado, com a aparência física deteriorada a cada dia. A família, a família imaginava que ele estivesse doente. Realmente estava, mas não era uma doença qualquer. Nem perceberam que ela já estava no fundo do poço, no inferno do mundo das drogas. A convivência com bandidos e viciados, fazia com que a morte estivesse presente o tempo todo. O livro é cheio de detalhes sobre esse inferno pelo qual João passou. Eu estou apenas fazendo um breve resumo. João escapou da morte em diversas ocasiões: perseguição policial, tiroteio na favela, arma que falhou ao ser disparada contra seu peito, rachas com o carro e etc. A vida de João era um inferno, mas ele não tinha forças para deixá-la.
João passava a noite com ratos nos becos, usando crack. Usava a droga em lugares escuros e nojentos, que fediam à merda e urina. Era um consumidor industrial da droga, fumando 40 pedras por dia.
Bom, você deve estar se perguntando como João conseguiu se livrar do mundo das drogas. A resposta: família. A família foi imprescindível para que João renascesse. Assim que sua mãe descobriu que ele era um viciado, ela comprou a briga. Passou por cima de tudo para salvar seu filho, inclusive estar ao lado dele enquanto se drogava. Ela ia na favela junto com o filho, com medo de que ele fosse morto pelos traficantes. A família de João, assim que descobriu, o abraçou. Ele passou por diversos tratamentos, ficou em clínicas, mas nada adiantava. Mas João também amava de mais sua família. Foi por causa desse amor que ele decidiu se mudar para uma cidadezinha do interior do Ceará e lá começou sua batalha contra a morte. Nessa parte do livro João nos fala do terror da abstinência, que é quando o corpo começa a doer pela falta da droga. Não só o corpo sofre, mas a mente também, com várias horas de alucinações. Lá no Ceará João ficou dois anos sob os cuidados de pessoas amáveis, que o abraçaram como um filho.

Como podemos perceber neste breve resumo, tudo começa como algo inofensivo e é aí que está o perigo. João começou cheirando benzina. Um simples produto de limpeza foi a porta de entrada para o inferno que viria a seguir. O livro também é cheio de dicas sobre como detectar o uso de drogas por filhos e alunos. João nos fala da mudança de comportamento e dos resquícios que os pais podem encontrar nos quartos, no carro, nas roupas e no corpo dos filhos. É um livro imprescindível para todos que estão envolvidos na luta contra as drogas. Agora vamos conversar com João Blota, o homem que venceu a luta contra o crack. A entrevista se deu pelo chat do facebook e foi devidamente autorizada pelo entrevistado. Ao final da entrevista, colocaremos a referência do livro, para quem quiser ter acesso a esta grande história de vida de um vencedor.  


DANILO SANTOS: João, primeiramente gostaria de agradecer pela entrevista que está me concedendo. Li seu livro e achei linda a sua história de vida, da qual podemos tirar muitas lições. É uma linda história de vida porque apesar de tantas coisas ruins que você passou por conta do contato com as drogas, podemos dizer que você conseguiu escrever um final feliz. Você conseguiu vencer a sua guerra contra o crack. Mas você ainda continua lutando essa guerra, mas agora para salvar outras pessoas que passam pelo mesmo que você passou. Agora você dá palestras de conscientização em várias instituições. Nesta sua luta, você já conseguiu ver resultados positivos, como por exemplo, pessoas deixarem de usar drogas após assistir a alguma palestra sua?
JOÃO BLOTA: Sim, certa vez estava realizando uma palestra com a Radio Jovem Pan e quando terminei, um garoto de aproximadamente 19 anos me procurou e disse que nao iria assistir à palestra, mas nao sabe porque resolveu ficar em vez de sair para fumar crack, e deu seu depoimento ao vivo na Jovem Pan dizendo que iria parar de usar drogas, pois a palestra mexeu muito com ele , principalmente quando falei sobre as mães. Nao sei se ele realmente parou,  mas naquele momento ele parou para pensar e isto faz uma grande direfença.
DANILO SANTOS: No seu livro, você deixou seu E-mail na orelha de capa. Após as vendas do livro muitas pessoas entraram em contato, como usuários ou familiares de usuários de drogas? E quando você lê esses e-mails você consegue perceber semelhanças com o seu passado?
JOÃO BLOTA:  Recebo muitos emails de todo o Brasil. São mães, pais, familiares e amigos pedindo socorro, querendo uma orientação. O problema das drogas só muda de endereço e personagem.
DANILO SANTOS: No livro você diz que encara a luta contra as drogas uma missão. Durante esses anos em que você está na luta, você já foi hostilizado publicamente por adeptos da legalização da maconha?
JOÃO BLOTA:   Realmente esta é a missao da minha vida. Talvez por isso nunca fui hostilizado. Não sou contra as drogas porque estudei, mas sim porque passei na pele e isto e muito forte.
DANILO SANTOS: Você considera o excesso de liberdade que os pais dão aos filhos uma das causas que levam crianças e adolescentes a entrarem no mundo das drogas? Quais as dicas que você dá aos pais e professores para que os mesmos possam detectar o problema antes que ele se torne crônico?
JOÃO BLOTA: Amor! Atenção! Estar presente no dia a dia, enfim, a droga sempre preenche os espacos vazios e se não houver espaço ela não entra!
DANILO SANTOS: Você considera o papel da religião um grande auxílio na luta contra as drogas?
JOÃO BLOTA: Não !Religião não! DEUS  sim, a única forma de combater a droga é AMOR, por isso a mãe dificilmente desiste do filho, pois não existe amor maior no mundo que o amor de uma mãe!
DANILO SANTOS: No livro você diz que o amor à família foi fundamental para que você deixasse o crack. Neste sentido, o que você tem a dizer para os familiares que sofrem por algum viciado em seu seio? O que você tem a dizer aos pais de filhos viciados?
JOÃO BLOTA: A família é o porto seguro que você pode voltar, o que posso dizer aos pais e que não abandonem seus filhos mesmo que tudo pareça perdido , e para os filhos viciados o que posso dizer é que no final você vai ver que sua mãe foi a única que ficou! Então pensa na sua mãe antes que seja tarde!
DANILO SANTOS: João, mais uma vez gostaria de agradecer por me ceder esta entrevista. Se você quiser deixar seus contatos para que os leitores interajam contigo, esteja á vontade. Seu livro é de grande ajuda para toda a sociedade. Muito obrigado!
JOÃO BLOTA: Danilo eu que agradeço esta oportunidade. Meu email é joao.blota@gmail.com e gostaria de dizer que sou eu quem agradeço cada pessoa que me procura, pois assim posso dar mais um passo na missão que Deus me  concedeu.

BIBLIOGRAFIA

BLOTA, João/ JÚNIOR, Rafael. Nóia- o poder tentador de nossas fraquezas. São Paulo/SP: Editora 300, 2009.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

MEMÓRIAS DO BAIRRO DO CRUZEIRO- CAMANDUCAIA/MG (TCC COMPLETO PARA DOWNLOAD)

Finalmente tomei a decisão de disponibilizar a minha pesquisa integralmente neste blog. Após palestrar sobre a minha pesquisa em algumas escolas do município de Camanducaia, gostaria que todos os camanducaienses tenham acesso a este inédito trabalho. Para professores de História, ele é imprescindível em sala de aula. Para amantes do conhecimento, ele é imprescindível para o desenvolvimento de uma mentalidade mais crítica sobre a nossa cidade. 

No trabalho em questão, não abordei exclusivamente o bairro do Cruzeiro. Fui além. No capítulo I, faço uma análise crítica do desenvolvimento da memória oficial camanducaiense, indo buscar fontes do início do século XX. No caso, derrubamos alguns mitos que nos foram ensinados nas escolas, tais como aquela velha história de que Camanducaia era o símbolo do progresso e que tal progresso servia à coletividade municipal. Para derrubar este mito, apontei as incoerências dos próprios documentos oficiais, produzidos pelos memorialistas. Depois trouxe à tona versões e vozes até então silenciadas. 

No capítulo II analisei as narrativas de história de vida dos agentes sociais que viveram nas zonas rurais. Fiz uma análise da transição de uma economia de subsistência para a capitalista, abordando as mudanças de mentalidade e as relações de trabalho entre proprietários rurais e colonos. Neste sentido, contextualizamos as mudanças de conjunturas econômicas e sociais das décadas de 1950/60/70. Mudanças que levaram aos deslocamentos de trabalhadores rurais para o perímetro urbano. 

No capítulo III, analismos as narrativas de história de vida dos moradores que nasceram no bairro, confrontando tais narrativas com as dos moradores mais velhos. O capítulo em questão tem como principal objetivo a análise do conflito de gerações, no qual há uma luta silenciosa por uma identidade coletiva do grupo analisado. 

Abaixo, os links para o download.






segunda-feira, 2 de setembro de 2013

QUANDO A POLÍTICA SE TORNA EFETIVAMENTE PÚBLICA: o medo da classe política pela popularização da informação.

Camanducaia foi uma das cidades sul-mineiras em que podemos dizer que a imprensa teve seu auge. Foram dezenas, senão centenas de jornais já impressos por aqui, fato até lembrado pelo memorialista Benedito Silva Santos no seu livro "Fragmentos da História de Camanducaia." Sabemos da existência dos jornais que eram impressos aqui porque temos colecionadores de acervos que pesquisam sobre o tema, citando aqui o Sr. Jaime Pina, que está prestes a publicar um riquíssimo trabalho sobre o assunto. Para mim que sou historiador, um trabalho como o do Sr. Pina será de uma fundamental importância, principalmente para me aprofundar mais no entendimento das estruturas políticas em sua diversas temporalidades. Durante a minha pesquisa, tive pouco contato com materiais relacionados à informação pública, como jornais e periódicos. Muitos colecionadores restringem o acesso. Mas a pergunta é: desde quando a informação é pública?

Entendendo-se público como domínio de todos, será que as informações que partem do que se entende por "oficial" é de domínio coletivo? Logicamente que é público só na teoria. Vamos analisar o por que. 

Atualmente nós opinamos pelas redes sociais. Nós discutimos, xingamos, denunciamos e etc, porém para a classe política, só é válida a opinião que sai nos jornais. Só é válida a opinião que é oficial. Hoje, qualquer cidadão com acesso à internet pode criticar o vereador, o prefeito, o deputado, até o presidente da República. Se você tem o dom de opinar coerentemente, você é um perigo para aquele vereador que só opina no meio oficial. Se fosse na época em que o coronelismo vigorava, com certeza  seria um ótimo candidato a amanhecer com a boca cheia de formiga. Vamos fazer uma breve comparação do passado com o presente.

Na década de 1930, eclodiu em Camanducaia uma guerra entre duas famílias oligárquicas: os Dantas e os Escobar. Os Escobar mandaram efetivamente da primeira década até a década de 1930. Com a mudança conjuntural relacionada à Revolução de 1930, os Dantas começaram a ascender politicamente até derrotarem os Escobar em 1937. Neste período não havia Lei. Camanducaia era uma terra de ninguém. Pessoas eram assassinadas em praça pública por bandoleiros patrocinados pelos que hoje são considerados heróis segundo a História Oficial. O crime era oficial. A morte era pública. 

Neste período, haviam dois jornais nos quais situação e oposição se vociferavam reciprocamente: "A Defesa", dos Escobar, e a "Folha do Povo", dos Dantas. Fazendo uma analogia, podemos dizer que esses jornais era como o facebook de hoje. Era onde os políticos lavavam a roupa suja. Mas continuando na analogia, há uma pequena diferença: hoje qualquer um tem livre acesso de opinião, enquanto que naquela época, só quem tinha o poder nas mão podiam opinar. A maioria do povo era analfabeto e não votava. Quando um analfabeto votava, era por causa das fraudes eleitorais que originaram os currais eleitorais, ou porque aprendia a assinar o próprio nome. Portanto, se você vivesse naquela época e você fosse um analfabeto, sua opinião não faria diferença alguma. Você não teria a quem recorrer, a não ser à sua própria arma. Tenho algumas fontes aqui que não postarei no blog porque vou usá-las no mestrado, mas elas se referem a este período sem Lei em Camanducaia. O que vou postar, são alguns fragmentos do jornal "A Defesa" para que vocês tenham um pouco de noção de como era o controle da opinião e como era violenta a política camanducaiense. Num destes recortes, vocês poderão ver até a citação do nome de um capanga e constatar que até as praças públicas não eram tão públicas assim.

  

Como podemos notar, a informação não era pública e muito menos democrática. Os políticos apenas dava a sua versão dos fatos e ninguém mais além deles tinha poder em fazê-lo. O que podemos concluir, é que em Camanducaia nunca tivemos, ou pouco tivemos, liberdade de expressão. Os jornais, como sabemos, são patrocinados por comerciantes ou pelos próprios políticos. Portanto, sempre haverá uma mão invisível nas informações que você lê. Por isso há que se ter um raciocínio crítico ao analisar a linha editorial do jornal, a quem ele se destina, qual sua ideologia, quem o financia, quem ele exalta, em quem ele bate e etc. 

Neste sentido, com a tecnologia e a Globalização, o poder sobre a informação ficou mais descentralizado. Um blog como este, não precisa de nenhum patrocinador e não é alvo de nenhuma censura. Já os jornais, estão à mercê de perderem patrocínio, por isso os políticos temem a opinião que você dá nas redes sociais. Eles não podem fazer nada, por isso nem comentam, pois não querem gerar polêmicas que afetam sua imagem ou seu marketing político. Eles se sentem mais à vontade nos jornais, já que não é qualquer um que pode publicar artigos ou ter o direito de resposta. Aí é que começamos a entender o por que de suas opiniões serem exclusivamente oficiais. Se você quiser ser ouvido na Câmara de Vereadores, você tem que se inscrever dois dias antes e se tiver vaga, você tem direito a falar por 15 minutos. Só que qual é a força da sua opinião na Câmara? R: NENHUMA! Sabe por que? Porque você só meia dúzia de pessoas irão te ouvir. Neste sentido, ao não consegui difundir a sua crítica para um grande número de pessoas, sua opinião não afetará em nada a imagem de um político corrupto, por exemplo. Por isso sou totalmente favorável a uma maior descentralização informativa relacionada à política e aos políticos. Poderíamos pensar no caso de transmitirmos o áudio da reuniões ordinárias numa rádio local, por exemplo. O que devemos fazer, é pensar em um modo de tirarmos os políticos desta redoma em que vivem. Político que tem medo de rede social, não pode ser levado a sério, pois todos nós, independentemente de qual área profissional sejamos, devemos nos adaptar às mudanças. Eu uso o facebook para dar aulas particulares de História, por exemplo. Por que eu, enquanto vereador, não poderia responder às suas indagações pelo meio virtual? Se eu considerar válida exclusivamente a opinião que é dada na Câmara, eu com certeza parei no tempo. 

Bom, galera, não vou me estender mais porque não quero fazer um texto longo e complicado. O que quero que vocês entendam é que a informação é uma arma poderosa se bem usada. Não podemos mais permitir que continue sobrevivendo em Camanducaia uma mentalidade arcaica em relação à política. Abraços a todos!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O DIREITO À SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO: CONTROVÉRSIAS DO SISTEMA

O DIREITO À SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO: CONTROVÉRSIAS DO SISTEMA

Por: Danilo Antonio dos Santos

Este artigo que escrevo é para complementar as matérias anteriores. Nele colocarei minha opinião, porém embasada em referências bibliográficas específicas sobre o tema. Cabe lembrar que não entendo nada de Ciência Jurídica. Sou historiador e não advogado. Há uns dias, fiz um convite em minha página no facebook para que algum advogado se dispusesse a escrever este artigo. Postei na minha time line e num grupo de estudos que tenho, no qual há 500 membros. Alguns amigos também compartilharam meu convite, porém até agora não obtive nenhuma resposta. Nenhum advogado se dispôs ou se ofereceu a escrever sobre o tema neste blog.

Outra questão que me levou a escrever este artigo, foi algumas discussões que tive no próprio facebook com um ex-governante municipal sobre o Direito à Saúde. Na visão do ex-governante, o município tem limitações para agir na distribuição de remédios e tratamento de doenças. Ele citou portarias e um tanto de leis que fazem com que o poder municipal cumpra à risca o sistema. Minha intenção aqui não é prejudicar a imagem de ninguém, mas sim mostrar as falhas do sistema. Mostrar a vocês como a Carta Magna é violada pelo poder estadual e municipal, e por que não pelo poder federal? Talvez eu esteja errado, pois o que aqui vou escrever é a minha versão embasada no mínimo de conhecimento que tenho sobre o tema.

Bom, vou direto ao assunto. Segundo o artigo 6º da Carta Magna:

“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”

Como vemos, o Direito à saúde faz parte de um dos artigos da própria Constituição de 1988. O Legislador ao incluir o Direito à vida sob proteção do Estado, é porque considera a mesma como bem de maior valor e inviolável, como diz Torres:

Proteger a saúde do indivíduo nada mais é senão efetivação ao texto constitucional que garante, com proteção integral, a inviolabilidade do direito à vida,  bem de maior valor, previsto no artigo 5º da CF/88. Ciente da magnitude deste bem, como também da sua fragilidade, o constituinte não poupou esforços em protegê-lo e o elencou como preceito fundamental, incluindo-o no rol dos direitos e garantias fundamentais.” (TORRES, 2012)

 Por mais que o Estado crie obstáculos ao executar os deveres que lhe cabem, obstáculos amparados por portarias que camuflam a ilegalidade das suas ações sob o amparo do que se entende por “Leis”, ele sempre estará passando por cima da própria Carta que o garante como tal:

 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Isso significa que o Direito à saúde é igualitário para todos os cidadãos e um dever do Estado. Não existe nenhuma portaria capaz de falar mais alto do que o que está escrito na Constituição, já que todas as demais leis se baseiam por ela. A Constituição é como se fosse o tronco da árvore, e as portarias e emendas como se fossem os galhos e as folhas. Se uma Lei não está em consonância com  a essência constitucional, essa Lei é inconstitucional.

“A omissão do poder público viola regra     profundamente enraizada na consciência ética e jurídica dos povos civilizados, de sorte que ao Estado não é dado, mesmo por inação, tirar da pessoa aquilo que a ela não deu, vale dizer, a vida. Está-se aqui diante daquilo que os juristas conhecem como omissão juridicamente relevante, pois o Estado tem, por força da carta magna, obrigação de cuidado e proteção. Sonegar um remédio vital, imprescindível à sobrevivência do enfermo, é conduta da maior gravidade, não escusável, sobretudo à vista do mandamento inscrito no artigo 198, II, da Constituição Federal. A mesma carta constitucional que garante o direito à vida, dá ao homem público os meios para prover a fruição do direito, que estão nos artigos 195 e 198, parágrafo único, daquele texto.” (SOUZA, 2012)

O trecho acima ilustra perfeitamente o que venho dizendo nas redes sociais. Nenhuma desculpa para negar remédios é válida, uma vez que o município faz parte do Estado e tem as mesmas responsabilidades. Se a desculpa for por falta de dinheiro, o município tem condições e meios de cobrar os demais poderes. Em caso de urgência, o município poderá até ignorar as portarias que lhe impede de executar seus deveres para com o cidadão necessitado. Ou seja, a sua vida é sim responsabilidade do município, representação e representado do Estado na figura do prefeito e vereadores.

“Não haverá de ser uma Portaria ou Protocolo, norma de terceiro escalão na hierarquia do ordenamento jurídico, a restringir a aplicação da lei e da regra constitucional. O Sistema Único de Saúde não implica o reconhecimento de um papel de simples gerenciamento das ações de saúde por parte do Estado membro. Aliás, o artigo 6º da Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro, ao dispor sobre as condições para a prescrição, proteção e recuperação da saúde, estabelecendo diretrizes para a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, permite entender que aquele conjunto de ações integradas não comporta aplicação restritiva”(SOUZA, 2012)

A própria responsabilidade igualitária dos poderes federativos é descrita na Constituição.

“O Estado brasileiro foi constituído de forma federativa, conforme reza o artigo 60, parágrafo 4º, I, da CF. Assim, todos os entes federativos, ou seja, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, possuem a mesma obrigação de promover a saúde pública de forma solidária. 
O intuito do constituinte, ao estabelecer a gestão da saúde pública como obrigação de todos os entes, foi observado inclusive no artigo 198, § 1º, da CF, ao criar um Sistema Único de Saúde, em que o financiamento conta com recursos orçamentários da seguridade social, da União, Estados, Distrito federal e Municípios, além de outra fontes.
Portanto, é de responsabilidade solidária de todos os entes federativos a concessão de medicamento, podendo o cidadão diante da negativa do fornecimento demandar contra qualquer um dos entes estatais ou contra todos.” (TORRES, 2012)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como sabemos, vivemos num sistema neoliberal capitalista. Isto significa que o sistema prega a menor intervenção possível do Estado na economia e nos demais setores, inclusive na saúde. Por isso constatamos atualmente a falência do SUS, enquanto que empresas de convênios médicos abocanham cada vez mais recursos que poderiam ser destinados à saúde pública. Não é de interesse das grandes corporações que você tenha um sistema público de saúde de qualidade, uma vez que isso não geraria lucros às indústrias farmacêuticas e hospitais particulares. Essas empresas financiam campanhas eleitorais, assim como os ruralistas fazem. Neste sentido, lutar por uma saúde pública de qualidade como manda a Constituição, é colocar a cara à tapa num sistema comandado por grandes corporações que têm poder sobre o nosso sistema jurídico e político, por isso muitas das portarias que restringem o uso de medicamentos essenciais à vida passam por cima da Carta Magna.

Pensar em estratégias que burlem esse sistema corrupto e injusto não é fácil, pois ao fazê-lo você estará burlando as leis que as próprias estruturas opressoras criam em benefício próprio. Essas estruturas têm o aval da imprensa e dos melhores juízes do país. Elas têm o aval de governadores e senadores. Por isso eu considero a nossa Carta Magna um peso morto. Se você vive num país em que seus direitos só são garantidos no papel, você tem o dever moral de violar as leis que te oprimem no dia-a-dia, como disse Martin Luther King. Nenhuma burocracia pode ser mais importante do que a sua vida. Neste sentido, os fins justificam os meios.

REFERÊNCIA

TORRES, Fabio Camacho Dell' Amore. Direito à saúde e a responsabilidade solidária dos entes federativos. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 10 fev. 2012. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.35767&seo=1>.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

NEM SÓ DE FILÓSOFOS VIVE ATENAS: AS REPRESENTAÇÕES DO RURAL PELOS MEMORIALISTAS CAMANDUCAIENSES[1]

DANILO ANTONIO DOS SANTOS


Universidade do Vale do Sapucaí
Av. Pref. Tuany Toledo, 470 – 3750-000 – Pouso Alegre-MG – Brasil



Resumo: Neste artigo analisamos as representações do rural por dois memorialistas camanducaienses. Por ser um município que teve intensa relação com práticas rurais, entendemos que os homens campesinos foram excluídos da historiografia oficial, sendo representados de formas pejorativas pelas elites letradas. Para essas elites, o município era a terra dos filósofos e por isso a chamaram de Atenas do Sul de Minas. Portanto, a exaltação dos aspectos considerados eruditos, legou ao rural as representações de arcaico e incivilizado.

Palavras-Chave: Camanducaia. Rural. Memorialistas


Neste artigo analisamos as representações do rural por dois memorialistas do município de Camanducaia-MG. Este município localiza-se no Sul de Minas Gerais, à margem da rodovia Fernão Dias, mais ou menos a 70 Km de Pouso Alegre. Atualmente é um município com mais ou menos 21 mil habitantes, onde mais ou menos 5 mil vivem nas zonas rurais.

Apesar de atualmente apenas ¼ da população viver na zona rural, até a década de 1970 essa população campesina era majoritária à população urbana, porém pouco aparece na historiografia oficial. E quando é citada, é de maneira pejorativa. Para compreendermos essa questão, analisamos os discursos de duas principais obras memorialísticas. A primeira é do memorialista Plínio Gayer, cuja obra chamada Anuário Jaguary[2] foi escrita na década de 1920. A segunda obra é do memorialista Benedito Silva Santos, cuja obra chamada Fragmentos da História de Camanducaia foi escrita na década de 1960. Ambos foram políticos locais.

As duas obras têm em comum a exaltação às elites locais e aos homens letrados. São obras que pintaram uma cidade como tendo um passado glorioso, em que se destacava pelo grande número de intelectuais, e por isso, denominada por Benedito Silva Santos de Atenas do Sul de Minas, em alusão à antiga cidade grega conhecida na história por seus filósofos. Esses discursos são reproduzidos até a atualidade, constatando a escrita dos dois memorialistas como um forte discurso da memória oficial.

Somos uma cidade com um passado riquíssimo, com inúmeros nomes se destacando nas letras, música, artes, educação, esporte e também na política, com gente nascida aqui que chegou a fundar grandes cidades pelo Estado de Minas e também outros que ganharam destaque na política estadual. Chegamos a ser a principal cidade do nosso extremo Sul de Minas, com várias localidades que hoje são cidades, pertencendo a nossa comarca.[3]

Como podemos perceber, o passado é representado de maneira nostálgica, “tempos áureos”, onde se produzia capital intelectual. Não só isso, o passado, na narrativa da memória oficial, também serve de padrão para se pensar o futuro. Para os políticos camanducaienses, há uma necessidade de (re)construir o passado, já que eles entendem que o que se é representado sobre os tempos idos se enquadra para todas as classes sociais, como se os discursos de “progresso” fossem para todos os homens do coletivo municipal. Por isso falam sempre no plural, como se os “tempos áureos” fossem para todos os cidadãos: “...temos que adotar medidas para recolocar Camanducaia entre as principais cidades do nosso Sul de Minas, pois o sentimento é que a cidade está estagnada, parou.”[4]  Esse discurso sempre foi o mesmo nas décadas passadas. Tão semelhantes, que chegam a ser quase que com as mesmas palavras.

Parabéns Camanducaia, se hoje, às vezes , você não se destaca entre as principais cidades de Minas, outrora você se destacou entre as principais cidades do país, com relação a sua cultura retratada por políticos, músicos, poetas, compositores e escritores que levaram seu nome a lugares distantes, não apenas para ser reconhecida mas para ser respeitada. [...] estamos torcendo para que você reconquiste seu lugar na história [...] e se transforme em mais uma cidade apenas moderna.[5]

Nesta perspectiva, tudo o que não é erudito não merece ser lembrado. Dar créditos às memórias de sujeitos que não se enquadram na memória oficial é colocá-la em xeque, é expor os conflitos de uma sociedade extremamente desigual, onde a maioria das pessoas não tinham acesso à escola, eram exploradas pelos grandes fazendeiros, eram privadas de médicos, não tinham condições financeiras para comprar remédios e nem roupas. Ao analisarmos o passado apenas pelo olhar dos intelectuais, a impressão que temos é de que todas as pessoas viviam em conforto absoluto, portanto, ao reproduzirmos o que a memória oficial nos diz, não nos é possível enxergar os homens e mulheres que levantavam ao clarear do dia para trabalhar a terra. Não nos é possível enxergar os homens e mulheres que alimentavam o comércio citadino com seus produtos vindos do campo.

Se entendermos a História apenas pelos parâmetros econômicos e políticos, caímos em generalizações que nos conduzem à inércia crítica. A memória oficial não é coletiva, embora as classes hegemônicas queiram que assim pensemos. Se a memória oficial fosse coletiva, então acreditaríamos que a Independência do Brasil fez de todos os homens do século XIX livres. Acreditaríamos que a Proclamação da República em 1889 beneficiou a todos os homens e fez deles cidadãos. Se a memória oficial fosse coletiva, acreditaríamos que todos os homens foram beneficiados com os projetos de modernização no século XX. Por isso, entendemos a História no plural, onde não existe uma memória coletiva, mas sim memórias coletivas. A Independência do Brasil não surtiu o mesmo efeito para os negros e pobres, se comparando com os benefícios aos latifundiários. Os projetos modernistas do século XX não beneficiaram os pobres que viviam nos centros urbanos e que foram afetados diretamente pelas políticas higienistas. Há um grande equívoco em pensar que os benefícios conquistados pelas classes dominantes sejam igualmente partilhados pelas classes miseráveis economicamente. Sobre essa discussão da memória coletiva, Portelli nos diz:

Se toda memória fosse coletiva, bastaria uma testemunha para uma cultura inteira; sabemos que não é assim. Cada indivíduo, particularmente nos tempos e sociedades modenos, extrai memórias de uma variedade de grupos e as organiza de forma idiossincráticas. Como todas as atividades humanas, a memória é social e pode ser compartilhada (razão pela qual cada indivíduo tem algo a contribuir para a história “social”); [...] ela só se materializa nas reminiscências e nos discursos individuais. Ela só se torna memória coletiva quando é abstraída e separada da individual: no mito e no folclore (uma história para muitas pessoas...) (PORTELLI, 2002, p. 127) 

O livro de Plínio Gayer, escrito em 1924, se resume, não poderia deixar de ser, à exaltação das classes elitistas da época. O rural pouco é citado e quando o é, lhe é atribuído conotações pejorativas. Essas famílias elitistas não estavam alheias aos ideias modernistas republicanos, pois estavam em constante contato com cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, principais cidades difusoras desses ideais. Neste contexto, tudo o que remetia ao rural era visto como arcaico e pitoresco. Logicamente que, sendo assim, o rural não seria alvo de registros, uma vez que apresentaria as disparidades sociais vigentes. Enquanto se embelezava as praças com chafarizes de alto custo financeiro, enquanto as elites se vangloriavam por possuírem luz elétrica e carros de luxo, os homens campesinos viviam sob as luzes de lamparinas à querosene. Portanto, não seria conveniente às classes elitistas exporem em seus registros escritos e imagéticos os aspectos que contradiziam os seus ideais de progresso, já que:

Basta lembrar o fascínio que os dominantes exercem sobre os dominados através de seu cotidiano: roupas, veículos, joias, moradias, textos, regras de comportamento se impondo como ideal de vida. Basta lembrar também o papel que museus exercem na difusão desses valores pelo tipo de acervos que habitualmente preservam. (KHOURY. PEIXOTO. VIEIRA, 2008,p. 27)

Nos poucos textos do livro em que os aspectos do rural aparecem, em um deles encontramos claramente o papel do homem campesino na economia do município. São os homens do campo que abastecem a cidade, num fluxo de mercadorias cujo sentido se inicia no campo:

Das chacaras proximas e dos sitios distantes uma legua, mais ou menos começam a chegar os leiteiros. São meninos que vêm em seus cavallicoques, ou em eguas mansas, montados sobre um sapicuá, onde as garrafas de leite se alojam, de um e outro lado do arreio, como se fossem gaitas de orgam. Ziguezaguando de uma casa a outra, ás portas annunciam, com voz infantil:
---Leite!... [...] Passam pela rua central tropas de cargas, a madrinha bimbalhando, na frente, seu sincerro. Os roceiros tambem chegam, trazendo para vender aos comerciantes seus cevados mortos. Ao longe, as metades, pendentes nas cangalhas, parecem fatias enorme de melancia madura e de casca fina.[6]

Apesar de nos fornecer esses pequenos detalhes da presença dos sujeitos campesinos na vida citadina, em outro trecho do mesmo texto, Plínio Gayer não se exime em representar com sarcasmo, por meio indireto, a prática dos camponeses em produzirem os chás de erva para tratarem suas enfermidades ao descrever sobre a falta de cuidados médicos. Não só longe dos benefícios que a cidade oferecia, os camponeses também não possuíam recursos financeiros para consultas médicas, chegando na maioria das vezes ao óbito: “Lá do alto aparece um grupo de homens, descendo apressado. É o enterro de um roceiro, que, em geral, morreu á mingua de recursos médicos. É certo que tomou remédios”. Quando escreve “É certo que tomou remédios”, Plínio Gayer se refere aos remédios caseiros produzidos pelos campesinos, portanto, na sua compreensão, sem efeitos benéficos.

Ainda analisando as representações do rural no livro de Plínio Gayer, damos destaque a uma fábula onde podemos perceber por meio das alegorias desenvolvidas em torno dos aspectos considerados “atrasados” pela mentalidade erudita da época. Na fábula chamada O ridículo do sapo, o sapo em questão faz alusão ao roceiro, ou seja, o camponês. No enredo da historinha, o sapo é um personagem que resolve deixar o seu meio para se aventurar nos bailes da cidade. O sapo vivia em um meio rústico, longe da “civilização” (cidade). Só via o mundo “através da fumaça do seu cachimbo”, sendo o cachimbo um objeto que alude ao arcaico. Transcrevemos abaixo a fábula para que possamos melhor analisá-la.

No charco,entre as folhagens, vivia o sapo feliz e satisfeito a fumar o seu cachimbo. O grillo, um seu compadre, bohemio incorrigivel, que passava as noites inteiras a beber cerveja e a cantar, quebrava a monotonia da vida do chaco com sua serenatas.... Os vagalumes, voando luminosos, serviam de faiscantes lampadas eletricas... E o sapo via o resto do mundo através da fumaça de seu cachimbo.  Certo dia a vida do sapo sofreu uma completa transformação. O sapo perdeu a cabeça. Estava apaixonado por uma estrella, que elle via luzir todas as noites quando abria a janela para receber a serenata do seu amigo grillo. Sahiu então de sua simplicidade, envergou uma casaca, apertou sua tradicional barriganuma cinta elastica,  substituiu o cachimbo por um charuto e abalou para o club, onde costumavam bailar as estrellas. Ao penetrar o salão sentiu logo que aquelle não era seu ambiente. Ficou atordoado com o barulho infernal da orquestra onde havia, uma combinação de estardalhaços, desde a sanfona até o jazz-band. Contudo, não desanimou. Arriscou um fot-trot. Coitado, só sabia pular, suas pernas não permitiam os passos desta dança. Foi um desastre. Todo o salão divertiu-se á sua custa. Foi o bôbo da festa. Quando compreendeu a situação já era tarde. O espetaculo estava dado... E envergonhado o pobre sapo desapareceu no charco, para nunca mais surgir em público....[7]

                Decodificando a fábula em questão, encontramos palavras chaves que merecem atenção, pois somente assim poderemos compreender a caracterização do camponês pelo autor. O sapo, que caracteriza o camponês, onde a fábula faz alusão ao mesmo, troca seu artigo não luxuoso, como o cachimbo por exemplo, por um charuto, objeto que alude ao luxo da elite, além de dar mais conotação de status, uma vez que para se apresentar a um meio o qual não é o seu, há que se caracterizar como um burguês. Por isso também o uso da casaca. Como não está adaptado aos costumes burgueses (suas pernas não permitiam os passos desta dança), já que é cegado pelas tradições arcaicas do rural (fumaça do cachimbo), o camponês se passa por ridículo ao tentar ser o que não é; por isso é fácil ser notado. Não se adapta “ao barulho infernal da orquestra” (ritmo não monótono da cidade). Neste sentido, o “ser” burguês, nas representações da fábula, não implica apenas se vestir como tal, mas também seguir os padrões de comportamento estipulado por essa classe. A partir desta perspectiva, percebemos no texto de Plínio Gayer não só as representações do camponês, mas também os valores burgueses. Representações contrastantes de campo e cidade, onde se reforça a valorização dos aspectos citadinos ridicularizando os aspectos campesinos.

Mais do que fazer as representações do camponês por meio da escrita codificada da fábula, Plínio Gayer, em nota logo abaixo ao texto, diz diretamente a quem se refere, não deixando dúvidas seu incômodo pelo sujeito que simboliza para a burguesia o “atraso”. A cidade, neste sentido, não seria o lugar do camponês permanecer, pois suas práticas culturais não corresponderiam aos valores que aludem à “civilização”.

Como o sapo fazem muitos roceiros, que deixam de galope a rusticidade do campo pela civilização exótica dos salões. São logo notados, estão deslocados de seu meio. Que a história do sapo sirva de exemplo.[8]

Partindo desse pressuposto, o campo seria a representação da barbárie, uma vez que, apesar do autor não citar a palavra “bárbaro”, cita o seu antônimo: civilização. Resumindo, o esquema proposto é simples: Cidade = civilização, campo = bárbaro. Há que se destacar que o próprio conceito de civilização está intimamente ligado à concepção de cidade, portanto, o próprio conceito tem conotação segregacionista, uma vez que desenvolve valores pejorativos às culturas e costumes alheios aos padrões citadinos.

A associação entre cidade e civilização remonta aos próprios primórdios do desenvolvimento urbano. Cidade e cultura escrita nasceram juntos como componentes formadores daquilo que tradicionalmente se convencionou chamar de “civilização”. (BARROS, 2011, p. 101)


O livro de Plínio Gayer transmite a forte influência dos ideais da Bélle Epoque, onde as elites almejavam um afrancesamento da cultura urbana. Por isso a exaltação aos comportamentos e aos sujeitos que mais se aproximavam dos códigos de posturas europeus. A Europa, nesse sentido, é espelho para as práticas culturais das elites, que, ao enxergarem nesse continente as representações do que entendem por moderno, afrancesam-se no idioma, afrancesam a cidade na arquitetura e na paisagem.

Foram essas representações do passado camanducaiense que nos chegaram até o presente. Dessa maneira, ainda é muito comum, principalmente em épocas eleitorais, ouvirmos discursos que exorcizam esse passado europeizado, áureo, onde os “nossos intelectuais” se destacavam na política e nas artes. Para problematizar essa questão, caberia perguntar se a maioria dos cidadãos eram afrancesados assim como as elites. Talvez na resposta estaria a verdadeira questão pela qual as culturas que representavam o atraso aos olhos das elites não foram e não são dignas de serem lembradas. Talvez seria desconfortável para os intelectuais que escreveram sobre a cidade de Camanducaia apresentar nas suas memórias a cultura caipira[9] a qual eles estavam em constante contato, já que eram os homens do campo, depositários dessa cultura, que produziam os alimentos, eram eles que faziam o transporte de mercadorias nos carros de bois, eram eles que abriam as estradas vicinais com enxadões.

Comecemos por analisar os silêncios. Já que a intenção era consolidar uma identidade erudita para a cidade de Camanducaia, logicamente que estratégias deveriam ser colocadas em prática para que o meio rural ficasse de fora da escrita dos memorialistas. Quando falamos em estratégias de silêncios, não queremos dizer que o meio rural não fora citado, mas sim as formas de abordagens sobre esse meio é que são excludentes. Sendo assim, os camponeses são representados como sujeitos simples, vivendo em harmonia com a natureza exuberante, “mostrando apenas sua inocência, e escondendo suas misérias.” (WILLIAMS, 2011, p. 39)

Ali está o nosso lavrador que ama sua terra fértil, ladeada por colinas manchadas de vegetação, tendo ao fundo o céu azul, que a noite serena salpica de estrelas ...de silêncio. É êle o homem corajoso e honesto, que no anonimato do seu trabalho quotidiano, dialoga com suas pequenas sementes e colabora no engrandecimento de sua terra. [...] As casinhas, geralmente brancas, dão um toque de realeza à paisagem, onde a vida se escôa calmamente ao compasso inalterável de uma orquestração Divina.   [10]


Essas representações sobre o campo, para Williams, remontam à Antiguidade clássica e:

Em torno das comunidades existentes, historicamente bastante variadas, cristalizaram-se e generalizaram-se atitudes emocionais poderosas. O campo passou a ser associado a uma forma natural de vida --- de paz, inocência e virtudes. À cidade associou-se a ideia de centro de realizações --- de saber, comunicações e luz. [...] o campo como lugar de atraso, ignorância e limitação. (WILLIAMS, 2011, p. 11)

Há que se contextualizar a década em que Benedito Santos escreveu seu livro, pois somente assim entenderemos os motivos de se consolidar uma memória oficial e os valores que ela propagaria posteriormente; e que infelizmente, ainda se fazem presentes. A década de 1960 ficou marcada com as tentativas de Reforma Agrária. As elites conservadoras tremeram de medo quando João Goulart propôs as Reformas de Base em 1964 ao Congresso Nacional. O País passava por um processo de desenvolvimento industrial que se iniciara com o governo Vargas e que se intensificou com o governo JK. Esse processo desenvolvimentista afetava também o campo, pois os fazendeiros expulsavam os antigos parceiros, colonos, para dar lugar aos maquinários. Os que ficavam sem terra para plantar, mudavam-se para as cidades. As propostas de Reforma Agrária de Jango iam de encontro aos interesses do agronegócio exportador, uma vez que se propunha ceder as terras não utilizadas pelos fazendeiros às massas de trabalhadores sem terra. Sendo assim, a maneira encontrada pelas elites conservadoras de se safarem foi dar o Golpe de Estado, ou seja, implantou-se uma Ditadura Civil-Militar em 1964. Civil-Militar porque a Ditadura teve apoio de segmentos sociais civis como a Igreja e a imprensa.

Com a Ditadura, mais os discursos desenvolvimentistas propagados pela televisão e o rádio, o êxodo rural era uma constante. Os camponeses que viviam sob o julgo dos fazendeiros, mudavam-se para as cidades à procura de melhores condições de vida. Logicamente que também havia os deslocamentos causados pelo fracionamento espacial do campo, onde as divisões de herança obrigavam herdeiros da terra a expulsar parte dos colonos devido à pouca produtividade agrícola. Camanducaia não ficou alheia a essas transformações, recebendo no meio urbano uma pequena massa de trabalhadores rurais a partir do final da década de 1960. Alguns camponeses não permaneceram e mudaram-se para São Paulo. Neste contexto, as elites políticas caíram em um dilema: aceitar a massa de “analfabetos” morando nos espaços consagrados pelos eruditos ou deixá-los ir embora para as cidades industrializadas? Já que se deixasse que eles fossem embora implicaria na falta de mão-de-obra para a construção de prédios públicos e casas, então a alternativa foi deixá-los ficar. Se as elites políticas não poderiam viver sem esses sujeitos que representavam o atraso com seus costumes vindos do campo, elas poderiam excluí-los da História da cidade. Já que o espaço citadino estava recebendo agentes sociais que não correspondiam às representações do moderno, era necessário às elites políticas buscar as origens em que essas representações se faziam presentes, por isso a nostalgia por um passado erudito.

Tudo o que aludia à cultura europeia era digno de ser exaltado e lembrado, estando a própria concepção de cultura ligada às práticas das elites políticas. Os tempos nostálgicos são caracterizados como os tempos em que os citadinos executavam músicas clássicas nas praças, encenavam peças teatrais, sempre tendo como modelo a Europa. O próprio trabalho manual é indigno de ser mencionado como prática que alude à concepção de civilização:

Por não ter muito o que fazer de trabalho manual, seu povo dedica-va se à aprendizagem da música, da pintura, da escultura, da representação teatral, para matar o tempo se deliciando! [...] Até 1925, quase todos os domingos, à tarde, uma banda de música, subia ao corêto do jardim da Praça Senador Francisco de Escobar, para executar, razoavelmente, música de Carlos Gomes, Verdi, Puccini, Mozart e de tantos outros grandes compositores. Ali, na Praça, todo mundo se reunia para prestigiar e aplaudir o espetáculo belíssimo de civilização e cultura.[11]

Percebe-se nessa narrativa, não apenas a exaltação à cultura erudita, mas também a consagração dos espaços em que se dava a sua prática. Não por acaso, a Praça Senador Francisco de Escobar é um dos lugares de memória mais usados como símbolo de progresso em Camanducaia. É o espaço mais fotografado, onde em qualquer biblioteca, em qualquer página virtual, em qualquer cartaz de propaganda que faz alusão à cidade de Camanducaia, lá está a Praça representada por fotografias. Sendo a praça em questão o símbolo máximo consagrado pela memória oficial, é a ela que se destinam as incontáveis reformas públicas, é a ela que as elites políticas recorrem como auxílio para demonstrar que os seus projetos modernistas se realizam.    

Foi justamente pelo incômodo de os “analfabetos” ocupar os espaços consagrados pelas elites, que Benedito Silva Santos escreveria que a cidade não mais se primava pela “distinção”. Mais do que fazer uma narrativa em tom preconceituoso, consagrando e exaltando os aspectos eruditos e inferiorizando os aspectos representativos do rural, as elites políticas promoveram a segregação do espaço citadino. Para que esses camponeses não ocupassem o centro da cidade, fez-se necessário a política de descentralização da pobreza, que consistia na doação de lotes nas zonas periféricas, onde se formariam os bairros do Cruzeiro e Alto do Cemitério. Era preciso reforçar a concepção de que os costumes vindos junto com os camponeses representavam o atraso, já que havia a necessidade de se fazer uma distinção entre moderno e arcaico, refletida na ocupação dos espaços citadinos. Se a cidade era reflexo do moderno, o campo representava o atraso. Atraso não no sentido restrito ao espacial do campo, mas principalmente sintetizado nas culturas dos agentes sociais campesinos que vinham morar na cidade. Percebe-se a partir de então, uma cidade que quer se mostrar ao Estado como uma cidade no rumo do progresso, mas que sofre limitações devido aos costumes arcaicos das zonas rurais. 

Agora, o seu carranquismo é devido ao “fator humano” de onde se originou e que nem custando a desaparecer, principalmente da zona rural, com os velhos costumes ainda predominando, em prejuízo do seu desenvolvimento.[12]    

A insatisfação do memorialista pelas mudanças sociais, políticas e econômicas, ocasionando todo esse processo de deslocamento da mão-de-obra campesina, é patente quando escreve: “O povo que trabalha e produz, enriquecendo a terra, êsse fugiu espavorido para trabalhar e enriquecer outras terras, amparado pela ação governamental!”[13]. Quem mais além dos trabalhadores rurais que vieram morar na cidade iria servir de mão-de-obra pública para o calçamento das ruas no futuro? Quem mais além deles iria servir de mão-de-obra para a construção de novas casas em novas ruas que se abriam?

Ambos os memorialistas eram das Ciências Naturais, sendo Plínio Gayer, médico e Benedito Silva Santos, farmacêutico. Ambos deixaram transparecer em suas narrativas um aspecto evolucionista da sociedade, próximo ao Darwinismo social. Benedito Santos foi influenciado pela escrita de Plínio quando escreveu o livro Fragmentos da História de Camanducaia. Se Plínio representou o meio rural como sendo “incivilizado”, o “charco” onde vivia o “sapo” cegado pela fumaça do cachimbo, Benedito Santos não fugiria a essa caracterização.

Em uma de suas citações, a que consideramos a mais agressiva de seu livro, Benedito Santos faz uma analogia do homem campesino à lepra, a uma doença social.

Meus senhores, nesta terra assim encantada, que as montanhas escarpadas guardam nos seus seios fecundos e prodigiosos, onde, outrora, a inteligência floresceu como o lírio imaculado, embalsamando as altas esferas da intelectualidade nacional, onde a imprensa liberal competia com as suas congêneres das grandes metrópoles onde as artes eram cultivadas como uma dádiva do céu, onde a sociedade se primava pela distinção e bom-gôsto, em noitadas elegantes e inesquecíveis, as luzes se apagaram, para dar lugar à mediocridade vicejante que, como a lepra, vem contaminando gerações e gerações, sem nenhuma providência, de quem de direito, capaz de exterminá-la do solo abençoado de nossa terra para recuperar-se da mácula degradante de “Terra de analfabetos”![14]

Analisando mais detalhadamente a citação acima, há que se considerar toda a estrutura discursiva do livro do memorialista no que se refere ao rural e ao homem campesino. Como já vimos anteriormente, o homem campesino é representado como incivilizado, inculto e etc. Portanto, quando o memorialista escreve que “a sociedade se primava pela distinção”, significa que havia a segregação espacial do que era considerado erudito e civilizado do aspecto considerado incivilizado, “medíocre”, nas palavras do memorialista.

Percebe-se que o memorialista busca em seu discurso uma referência ao Iluminismo francês quando diz que “as luzes se apagaram para dar lugar à mediocridade”, sendo as luzes em questão os eruditos, e os medíocres os analfabetos vindos do campo. Ainda analisando o discurso do memorialista, os analfabetos seriam uma doença que colocariam em risco a distinção social, e que deveria ser neutralizada por aqueles que têm o direito sobre a cidade: os letrados.

Esse descontentamento em relação aos homens campesinos deixa transparecer uma questão que é paradoxal à própria memória oficial do município: ele não era uma Atenas como se difundiu. Quando os homens campesinos começam a ocupar os espaços consagrados pelas elites letradas, eles passam a ser descritos pelas mesmas. Ainda que representados de maneiras pejorativas pelos memorialistas, os homens campesinos demonstraram com seu deslocamento para a cidade que eles sempre estiveram presentes em Camanducaia, porém eram excluídos da sua memória oficial.  



 Referências Bibliográficas



BARROS, José D’Assunção. “Cidade” e “Cultura”—considerações sobre uma relação complexa.  Revista de História Regional, Vol. 16, nº 1, (2011), p. 101. Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/rhr/article/view/2399.  Acesso em  29 de agosto de 2012.
KHOURY, Yara Maria Aun. PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo. A Pesquisa em História. 5ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 2008.
PORTELLI, Alessandro. O Massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944): mito e política, luto e senso comum. In: Usos e Abusos da História Oral. Organizado por: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. 5ª Ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade na história e na literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.









[1] Linha de Pesquisa: Espaço e Sociabilidades
[2] Antes de se chamar Camanducaia, o município chamava-se Jaguary.
[3] DIAS, Edmar Cassalho Moreira. Entrevista com o presidente da Câmara, Edmar Dias. Gazeta do Vale. Cambuí, edição especial, p. 6, Julho 2011. Entrevista concedida a Luís César Fonseca.
[4] Idem.
[5] CAMPOS, Servando de. Parabéns Camanducaia. Jornal Folha de Camanducaia. Camanducaia, ano III, nº 22, Junho-Julho/1994, p. 01.
[6] GAYER, Plinio. Anuario Jaguary.  Jaguary: 1924,  p. 63.
[7] Idem. p. 57
[8] Id., Ibd.
[9] Quando nos referimos à cultura caipira, não fazemos alusão a estereótipos preconceituosos como tanto se difundiu no cinema brasileiro, na literatura e também no senso comum. Entendemos a cultura caipira como resultado da mistura cultural entre o homem branco com o índio. O caipira neste sentido, é o sujeito que mescla nas suas práticas cotidianas e representações de mundo aspectos remanescentes do homem europeu com o nativo brasileiro. Podemos encontrar  tais aspectos híbridos na culinária, na prática agrícola, na língua, nas religiões, na dança, na música e etc. Para saber mais, ler: RIBEIRO, Darcy. O Brasil Caipira. In: O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
[10] SANTOS, Benedito Silva. Fragmentos da História de Camanducaia. Camanducaia, 1968, p. 241.
[11] SANTOS, Benedito Silva. Fragmentos da História de Camanducaia. Camanducaia, 1968, p. 303.
[12] Idem., p. 206.
[13] Id., Ibd., p. 25.
[14] SANTOS, Benedito Silva. Fragmentos da História de Camanducaia. Camanducaia, 1968, p. 252.