quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O COMBATE ÀS DROGAS EM CAMANDUCAIA: ENTREVISTA COM O POLICIAL MATHEUS PEREIRA GUIMARÃES

Na matéria anterior, sobre drogas, entrevistamos João Blota, o homem que venceu a luta contra o Crack. Autor de um livro autobiográfico, João Blota é uma das raras exceções de pessoas que conseguem vencer o vício depois de já estarem no fundo do poço. Como ele bem disse na entrevista, o problema com a droga só muda de endereço e personagem. A droga atinge todas as classes sociais. O tráfico é um dos negócios mais lucrativos do mundo, financiando poderes paralelos, como facções criminosas e terroristas mundo afora.

Há quem diga que a descriminalização da droga acabaria com esses poderes paralelos. Em alguns países, como Holanda e EUA, a maconha, por exemplo, já é encontrada em comércios legalizados. Na Holanda pode-se fumar um baseado tranquilamente e nos EUA há até refrigerantes da erva. Mas a pergunta é: será que a droga só produz o traficante? Não. A droga, mesmo sem o traficante, produz a dependência e o inferno de quem a usa. Dependência psíquica e física. A droga destrói casamentos, destrói a relação de pais e filhos, destrói a família. Não precisamos de dados estatísticos para constatar os males que a droga causa. Basta ter contato com um aluno- como eu já tive durante estágios na escola- usuário de maconha. Sua capacidade cognitiva decresce, seu raciocínio fica lento. Basta ter contato com um aluno que perdeu a mãe que era usuária de crack, e ver em seus olhos a tristeza em não ter mais os pais por perto. Tudo por conta de uma pedrinha feita com um pozinho branco.

Só quem convive com viciados sabe os males que a droga causa. Não precisamos das armas do traficante para transformarmos o mundo num caos. Basta apenas distribuir legalmente os pós e as ervas da morte. Ao fazermos isso, lotaremos as clínicas de dependentes químicos, deixaremos milhares e milhares de crianças órfãs, criaremos uma sociedade escravizada na sua própria mente. Uma sociedade que trocará o dia pela noite, em que de dia dormirá e à noite vai cheirar os pós e as ervas da morte. Imagine um mundo onde a droga seja encontrada em supermercados e farmácias. Pense nisso.

Hoje entrevistaremos o policial Matheus Pereira Guimarães. Matheus é escrivão na Delegacia de Polícia Civil de Camanducaia, mas também realiza interrogatórios quando o delegado não o faz. Procuraremos compreender o problema das drogas na visão de um agente social que tem como finalidade combater atos ilícitos, como o tráfico.

DANILO SANTOS: Matheus, primeiramente obrigado por estar me cedendo esta entrevista. Nossa intenção é levar informação às pessoas que convivem com os problemas ocasionados pelas drogas. Bom, para iniciar, gostaria de saber se no seu cotidiano de trabalho aparecem muitos casos de sujeitos envolvidos com o tráfico de drogas aqui em Camanducaia.

MATHEUS GUIMARÃES: Bom dia Danilo. Eu que agradeço a oportunidade de contribuir de alguma forma com um tema imensamente sério que atinge todas as camadas de nossa sociedade e gera grande impacto, de uma forma ou outra, sobre todos nós. Sim. Há muitos indivíduos envolvidos com o tráfico de drogas, não sendo raras as ocorrências neste sentido, geralmente envolvendo adolescentes, facilmente atraídos para o tráfico pela inimputabilidade que lhes é conferida pela legislação penal, por estarem em uma fase em que se encontram mais suscetíveis a novas experiências, positivas ou negativas, sendo facilmente “convencidos” pelos verdadeiros traficantes e pela relativa rentabilidade conferida pelo tráfico de drogas. Há, contudo, pelo menos em Camanducaia, poucos traficantes de maior porte, que fazem do tráfico de drogas uma escolha de vida e, ainda assim, não possuem nenhum poder financeiro e militar, como ocorre nas grandes cidades metropolitanas. O que se tem é uma imensa gama de pequenos traficantes, fato que facilita a disseminação das drogas e dificulta o trabalho da polícia.

DANILO SANTOS: Durante o meu período de estágio nas escolas, pude testemunhar a facilidade com que as drogas entram nessas instituições. Ao questionar os professores sobre isso, eles me diziam que não tomavam nenhuma iniciativa por medo de represálias por parte dos traficantes. Por acaso no seu trabalho aparecem casos de problemas com drogas em escolas? Cite os problemas e as drogas mais comuns em ralação ao espaço escolar.

MATHEUS GUIMARÃES: Sim. Infelizmente os jovens estão tendo contato cada vez mais cedo com as drogas e, para muitos, o primeiro contato ocorre justamente nas escolas. Começam a fazer uso de maconha, posteriormente ingressam no uso da cocaína e, na pior das hipóteses, tornam-se viciados em crack. Assim sendo, embora ainda seja pequeno o uso e venda de drogas nas escolas, comparando com toda a gama de ocorrências relacionadas à entorpecentes, este número vem crescendo cada vez mais. Há de se frisar que somente uma parcela dos casos de drogas nas escolas efetivamente chegam ao conhecimento da polícia, o que não é diferente nos demais casos de tráfico de drogas. 

DANILO SANTOS: Você poderia nos citar quais os espaços urbanos mais comuns aqui em Camanducaia onde se dão a maioria das ocorrências relacionadas às drogas? O que você sugere para sanar o problema?

MATHEUS GUIMARÃES: Os maiores pontos situam-se nas proximidades do “Bar do Moraes”, da “Lanchonete Nova Era”, do “Bar do Gaúcho” e nas tradicionais zonas periféricas da cidade: Bairro do Cruzeiro, Cemitério e da Uzina. Sugiro a instalação de câmeras de segurança em locais estratégicos, conhecidos pela venda e consumo de drogas, como medida preventiva, além de mais iluminação; maior rigor da Prefeitura Municipal no momento de concessão do alvará de funcionamento em estabelecimento em que é popularmente sabida a ocorrência de venda e consumo de drogas e; maior efetividade por parte da Polícia Militar na prevenção e fiscalização dos aludidos locais e da Polícia Civil na investigação dos crimes relacionados a entorpecentes; realização de campanhas de conscientização das polícias Civil e Militar e do poder público executivo, principalmente nas escolas.

DANILO SANTOS: As festas “raves” são muito conhecidas pelo alto consumo de cocaína e ecstasy. Aqui em Camanducaia são raras, porém já foram realizadas algumas. São festas nas quais o uso do ecstasy e cocaína faz com que o sujeito beba grande quantidade de água e bebidas alcoólicas, favorecendo assim lucros para os organizadores dessas festas. Neste sentido, a polícia toma alguma iniciativa em relação à fiscalização? Essa fiscalização se dá antes, durante ou depois do evento?

MATHEUS GUIMARÃES: É dever da polícia e dos órgãos do poder executivo realizarem a fiscalização antes, durante e depois do evento na seguinte lógica: A prefeitura municipal e o corpo de bombeiros analisam se estão presentes todos os requisitos legais e de segurança, a Polícia Militar realiza o trabalho ostensivo, preventivo fardado, para evitar a ocorrência de infrações durante o evento e a Polícia Civil realiza o trabalho de investigação, após a ocorrência do evento, de fatos de interesse criminal. Como eu conheço apenas uma festa Rave que se deu aqui em Camanducaia, antes do período em que ingressei na Polícia Civil, não sei informar se essa fiscalização realmente ocorreu.

DANILO SANTOS: Durante a sua formação na polícia, você teve treinamento para reconhecer sujeitos suspeitos de envolvimento com o tráfico ou como usuários. Você poderia citar algumas dicas sobre isso, com o intuito de informar os pais e a sociedade? Quais são as pistas encontradas tanto em sujeitos que traficam como em usuários?

MATHEUS GUIMARÃES: Os suspeitos, na visão da polícia, são pessoas que costumam freqüentar locais conhecidos como ponto de tráfico de drogas, que já tenham passagem pela polícia, que se comportam com “nervosismo excessivo” com a presença da polícia e que não estejam trabalhando, embora muitos traficantes têm o tráfico como fonte de renda secundária. Quanto aos sinais característicos dos usuários, depende da droga que estão usando. Embora não haja fórmula precisa, os sinais são observados, sobretudo, na mudança de comportamento, que como já dito depende do tipo e quantidade de droga consumida. De maneira geral passam a ter como amigos pessoas com envolvimento com o tráfico ou consumo de drogas, valendo a máxima popular “diga com quem tu andas que eu te direi quem tu és”; também freqüentam locais de uso e tráfico de drogas e se apresentam nervosos na presença da polícia (quando estão portando drogas para consumo); tornam-se dispersos e com pouca capacidade de concentração (uso de maconha) ou agressivos e agitados (uso de crack e cocaína). Os usuários de “crack”, droga altamente viciante e barata, já difundida em todas cidades brasileiras, além da pouca capacidade de concentração, agressividade, agitação, começam a perder peso, pois a droga tira a fome, e quase na totalidade dos casos, praticam pequenos furtos para sustentarem o vício, que se iniciam na própria residência do usuário. Como os sinais podem ser extremamente sutis cabe aos pais ficarem atentos às mudanças repentinas de comportamento de seus filhos, sobretudo na adolescência.

DANILO SANTOS: Em caso de suspeita de tráfico nas nossas ruas, como devemos proceder ao denunciar sem sofrermos represálias por parte dos traficantes? A nossa identidade é protegida pela polícia?

MATHEUS GUIMARÃES: Existe o telefone 181 do Disque Denúncia, em que é possível a notificação do fato criminoso sem a necessidade de identificação. Também é possível procurar a Polícia Civil e solicitar o sigilo, em uma conversa informal, no momento em que se noticia o fato criminoso. Esta “denúncia anônima” permite que os policiais civis passem a investigar o suposto traficante através de diligências preliminares, que pode ocasionar em Inquérito Policial. Também é possível que a informação seja levada informalmente à Polícia Militar, que dará mais “atenção” ao suposto traficante, dando busca pessoal se conveniente.

DANILO SANTOS: Matheus, muito obrigado pela entrevista que nos cedeu. Muito obrigado também à Polícia Civil de Camanducaia, que te autorizou a nos passar essas informações.

MATHUES GUIMARÃES: O prazer foi meu Danilo. Estou à disposição para maiores questionamentos.

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