quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A SAÚDE PÚBLICA E A SÍNDROME DO "NÃO SEI" EM CAMANDUCAIA

Quando falamos em problemas com a saúde pública, o nosso cérebro automaticamente nos lança a resposta da causa: dinheiro. É o que sempre ouvimos dos políticos; se a saúde pública vai mal das pernas, é por falta de dinheiro. Pois bem, hoje falaremos de um problema maior e que já é epidemia aqui em Camanducaia: a Síndrome do “Não Sei”. A ironia é que tal epidemia afetou apenas os nossos vereadores. Justo eles!
Na teoria, é sabido que o papel do vereador é fiscalizar as ações do Executivo. O papel do vereador é levar a sua e a minha voz à oficialidade do poder. O vereador, mais do que qualquer outro agente social, tem o dever e a obrigação de visitar todos os setores públicos, em especificamente aqui me refiro aos hospitais e postos de saúde. Infelizmente os nossos vereadores não fazem isso. Por isso a Síndrome do “Não Sei” está disseminada em nosso meio político. Os vereadores não sabem, por exemplo, que médicos e enfermeiros não cumprem corretamente o plantão nos postos de saúde, porém recebem muito bem pelas horas que não trabalham. Os vereadores não sabem que faltam remédios e até outros itens básicos, como fitas glicêmicas, chegando ao cúmulo de uma paciente quase enfartando tendo que levar da própria casa para que recebesse um atendimento adequado.
Isso que estou lhes expondo não é invenção, não é uma historinha de ficção científica. É a realidade cotidiana nos postos de saúde. É parte de relatos de cidadãos que estiveram presentes na reunião da Câmara, no dia 03 de outubro de 2013. Eu estive presente pela primeira vez a uma reunião da nova legislatura. Fui à reunião justamente para acompanhar as reivindicações de moradores de Monte Verde, entre os quais estavam alguns parentes de cidadãos que morreram por omissão de socorro no posto de saúde do Distrito. Poderíamos ter evitado a morte desses cidadãos? Sim. Poderíamos ter evitado ao cobrar dos nossos vereadores para que eles cumpram com os deveres para os quais são muito bem pagos para executar, pois se eles fiscalizassem como “manda o Benedito”, haveria médico no posto de saúde quando um homem sofreu um enfarte. Bom, vamos expor os fatos.
Fez uso da tribuna livre o cidadão Vicente Forlenza Neto. Cidadão muito conhecido e polêmico, Vicente é odiado no meio político. Não quero aqui fazer uma análise moral deste cidadão, mas admito que concordo 100% com a postura tomada por ele na última reunião. Ele serviu de porta-voz dos familiares dos cidadãos que perderam seus entes queridos pela omissão de socorro. Vicente expôs os problemas dos postos de saúde, como eu disse, dos quais os vereadores nem fazem questão de saber que existem. Enquanto Vicente fazia sua explanação, alguns vereadores, demonstrando total indiferença, assinavam papéis, mexiam nos papéis, nas canetas e etc. Só não jogaram dominó porque deve ser proibido na Casa de Leis. Atrás do Vicente estavam os familiares dos falecidos.
Vicente começou sua explanação dando ênfase na questão orçamentária e financeira. Não vou falar disso aqui porque quero mostrar apenas a parte principal da questão. Vicente relatou o seguinte:
Em Camanducaia, recentemente faleceu a Sra Alcídia Siqueira da Silva, no dia 18/09/2013. Segundo relatos da família, a dona Alcídia começou a passar mal. Imediatamente solicitaram a presença de uma ambulância. Ao chegar à ambulância, a enfermeira pegou no pulso da dona Alcídia. Estranhamente, a enfermeira disse à família que voltaria em seguida e nunca mais compareceu. Depois de um tempo os familiares, desesperados, novamente entraram em contato com a Santa Casa, que informou não dispor de ambulância. A senhora veio a óbito e ficou por isso mesmo.
Depois Vicente relatou outro caso:
No dia 8 de setembro, a Sra. Noêmia Palma foi chamada, pois seu pai se queixava de fortes dores e seu irmão disse a ela que já havia solicitado uma remoção via ambulância, e a Santa Casa informou que não dispunha de nenhuma! Um atendente do hospital informou à Sra. Noêmia que ligasse ao almoxarifado da prefeitura, pois lá encontraria a enfermeira chefe e somente ela poderia autorizar ou não a liberação de um transporte! Após contatar um rapaz no almoxarifado e receber um monte de desculpas, resolveu apelar para uma vizinha e resolveu a questão do pai, transportando-o até à Santa Casa. Estranhamente dia 8 de setembro era um domingo! A prefeitura repassa mais de 100 mil [ 160 mil por mês] Reais por mês à Santa Casa para os doentes e enfermos receberem este tipo de tratamento? Está certo isso?? Esta Casa concorda com isso?? Enfermeira no almoxarifado em pleno domingo?? Ou ela não estava de serviço??
Depois Vicente relatou sobre uma gestante que fora mal diagnosticada e teve que ser levada às pressas pelos próprios familiares à Extrema, onde deu à luz duas horas depois de um médico em Camanducaia ter-lhe dito que retornasse sete dias depois. Para o médico daqui, as dores eram decorrentes de uma infecção, e não do prenúncio do parto. Depois metem o pau nos médicos cubanos! Lembrando que tudo o que Vicente relatou foi corroborado pelas testemunhas ali presentes, por pessoas as quais o tinha como seu porta-voz. Vicente também falou da falta de conhecimento do chefe de gabinete e da Secretária de Saúde em relação ao não funcionamento do compressor usado pelo dentista do posto de saúde de Monte Verde, que está inativo há 12 meses. Comunicação, eis um dos grandes problemas. Como pode nem prefeito, nem vereador e nem secretário de saúde ficar sabendo dessas coisas? Eu mesmo, ao ter conhecimento desses problemas dias antes da reunião, falei com o chefe de gabinete e lhe sugeri uma reunião com os funcionários dos PSF’s, já que muita coisa não está sendo corretamente filtrada para o prefeito e secretário de saúde. Como pode um médico não cumprir o plantão e não sofrer nenhuma punição? Até quando isso vai acontecer?
Dando continuidade, Vicente relatou mais um caso que infelizmente veio a óbito.
(...) Mas aí o esperado acontece! Um crime anunciado se concretizou! Crime este rotulado por omissão de socorro, por falta de médico de plantão, falta de uma enfermeira chefe, e falta de coordenadora de saúde. Estas informações são da família do Sr. Israel Nogueira de Macedo, que faleceu no último dia 27 nas dependências do PS de Monte Verde. Ele deu entrada no PS por volta das 11:40h e 2 horas depois ele morre nos braços de um desesperado filho, por falta de um médico para atender, sem a presença de uma enfermeira chefe para medicá-lo ou fazer uso de um desfibrilador e muito menos da coordenadora que NUNCA providenciou substitutos para os faltosos! A própria coordenadora só apareceu no PS por volta das 16:00h, pouco antes da chegada dos policiais militares que confeccionaram o BO na presença do filho do falecido, o Sr. Josmar Nogueira de Macedo.
Depois Vicente falou da justificativa da médica que faltou, na qual ela alegou ter sofrido uma queda e ter passado por uma cirurgia, mas sem antes avisar a coordenadora que acabou não providenciando um substituto. Segundo moradores de Monte Verde, a própria coordenadora pouco fica no PS.
Vicente falou da pouca importância dada à saúde, comparando com outros quesitos, como obras e eventos festivos. Assim que terminou a explanação do Vicente, o Presidente da Câmara passou a palavra para algum vereador que quisesse comentar, e o que percebi foi o total despreparo de todos os vereadores ali presentes para tratar de um assunto tão sério. Assim que o Presidente perguntou se alguém queria falar alguma coisa, o silêncio tomou conta; quase dava pra ouvir os grilos cantando lá fora. Eis que a vereadora Tânia tomou a palavra. Ela lamentou perante os familiares das vítimas e falou resumidamente, usando o famoso gerúndio no meio político, que é quando ouvimos coisas do tipo: “Estaremos providenciando”; tudo com “ando”. O presente não tem vez no meio político. Só se vive para o futuro, por isso somos afetados por outra síndrome: a Síndrome do Gerúndio. A vereadora falou de um projeto que está para ser concretizado, no qual haveria uma parceria entre prefeitura e Associação Beneficente de Monte Verde (ABMV). Uma parceria entre o setor privado e público. Bom, para quem quiser ficar mais por dentro, sugiro que procure a vereadora para uma explicação mais detalhada, já que ela própria não estava muito por dentro de como o projeto vai funcionar. É a Síndrome do Não Sei e do Gerúndio aqui presentes.
Para concluir, não poderia deixar de citar aqui mais um exemplo de indiferença dos vereadores para com as pessoas que estavam ali presentes. Após a vereadora Tânia fazer sua explanação, o Presidente simplesmente disse: “Vamos abordar outro assunto.” Pronto, aí foi “The End”. Nem os familiares das vítimas não entenderam, pois são pessoas que não estão acostumadas com a burocracia e o corporativismo existente na alma dos nossos políticos. O assunto se encerrou, pois mais nenhum vereador teve massa cerebral suficiente para opinar. Como eu já freqüentei muitas reuniões da Câmara, posso lhes dizer que um vereador dificilmente é o que diz ser fora da Casa de Leis. Aqui fora passa a imagem de ser batalhador das causas sociais, altruísta, mas lá dentro... lá dentro é um corporativo, como se fosse uma máquina. Pois foi isso que presenciei nesta reunião. Pessoas sendo tratadas com indiferença pelos vereadores.
Quero deixar bem claro que este meu artigo não tem como fim fazer nenhuma politicagem. Neste artigo eu não sou de oposição e nem da posição. Neste artigo sou um homem revoltado com o sistema. O conselho que dou a todos os leitores, é que cobrem seus direitos. Façam com que vereadores, prefeito e secretários cumpram com seus deveres. Cobrem! Vocês mesmos podem fiscalizar. Para isso vocês têm que conhecer seus direitos. Abaixo, disponibilizo um link de um artigo que escrevi sobre os direitos que você tem. Muito obrigado a todos!  




4 comentários:

  1. Caro Danilo, permita-me complementar sua corajosa matéria com a minha impressão : O Dr Mazinho não compareceu! Ele alem de medico é ou está vereador! adoeceu e a provinciana doença o livrou de ser envolvido em um assunto do qual ele faz parte! Os vereadores não estão indiferentes, são indiferentes e se borram de medo de colocar a na massa. Vão ficar mau com s médicos! Vão ficar mau com o prefeito? Já que morto não reclama, paretes vivos estão chorando ainda a perda, e eu só poderei falar daqui a 60 dias...viram as costas para o Matadouro de Camanducaia( Sta Casa) e o Abatedouro de M Verde ( PS municipal) e o resto que se dane!!!!!

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  2. PARABÉNS DANILO POR ESSA PUBLICAÇÃO! INFELIZMENTE EU NÃO PUDE IR A ESSA REUNIÃO DA CÂMARA, MAIS O QUE EU ESTOU VENDO, É QUE TUDO CONTINUA IGUAL: EU FREQUENTEI A CÂMARA POR 2 ANOS SEGUIDOS, NA GESTÃO DO CÉLIO E SP FOI ASSIM, SÓ QUE PELO VISTO, ESSES VEREADORES DE AGORA, SÃO PIORES DO QUE OS ANTIGOS. PARABÉNS TB AO VICENTE PELA EXPLANAÇÃO.

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  3. Caros leitores. Muito obrigado por comentarem! Minha intenção com esses artigos é pressionar as autoridades políticas para que a saúde pública não sofra mais com o descaso. Nossa arma é a informação. Informação não corrompida pelos jornais patrocinados, mas por meios de comunicação imparciais. Por isso lhes peço para compartilharem este e demais artigos que vocês consideram importantes. Compartilhem no facebook, nos emails, em outros blogs e etc. Somente com informação poderemos competir com a farsa do marketing político, o qual protege os políticos. Obrigado!

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