Quando falamos em
problemas com a saúde pública, o nosso cérebro automaticamente nos lança a
resposta da causa: dinheiro. É o que sempre ouvimos dos políticos; se a saúde
pública vai mal das pernas, é por falta de dinheiro. Pois bem, hoje falaremos
de um problema maior e que já é epidemia aqui em Camanducaia: a Síndrome do “Não
Sei”. A ironia é que tal epidemia afetou apenas os nossos vereadores. Justo
eles!
Na teoria, é sabido que
o papel do vereador é fiscalizar as ações do Executivo. O papel do vereador é
levar a sua e a minha voz à oficialidade do poder. O vereador, mais do que
qualquer outro agente social, tem o dever e a obrigação de visitar todos os setores
públicos, em especificamente aqui me refiro aos hospitais e postos de saúde. Infelizmente
os nossos vereadores não fazem isso. Por isso a Síndrome do “Não Sei” está
disseminada em nosso meio político. Os vereadores não sabem, por exemplo, que
médicos e enfermeiros não cumprem corretamente o plantão nos postos de saúde,
porém recebem muito bem pelas horas que não trabalham. Os vereadores não sabem
que faltam remédios e até outros itens básicos, como fitas glicêmicas, chegando
ao cúmulo de uma paciente quase enfartando tendo que levar da própria casa para
que recebesse um atendimento adequado.
Isso que estou lhes
expondo não é invenção, não é uma historinha de ficção científica. É a
realidade cotidiana nos postos de saúde. É parte de relatos de cidadãos que
estiveram presentes na reunião da Câmara, no dia 03 de outubro de 2013. Eu
estive presente pela primeira vez a uma reunião da nova legislatura. Fui à
reunião justamente para acompanhar as reivindicações de moradores de Monte
Verde, entre os quais estavam alguns parentes de cidadãos que morreram por
omissão de socorro no posto de saúde do Distrito. Poderíamos ter evitado a
morte desses cidadãos? Sim. Poderíamos ter evitado ao cobrar dos nossos
vereadores para que eles cumpram com os deveres para os quais são muito bem
pagos para executar, pois se eles fiscalizassem como “manda o Benedito”,
haveria médico no posto de saúde quando um homem sofreu um enfarte. Bom, vamos expor
os fatos.
Fez uso da tribuna
livre o cidadão Vicente Forlenza Neto. Cidadão muito conhecido e polêmico,
Vicente é odiado no meio político. Não quero aqui fazer uma análise moral deste
cidadão, mas admito que concordo 100% com a postura tomada por ele na última
reunião. Ele serviu de porta-voz dos familiares dos cidadãos que perderam seus
entes queridos pela omissão de socorro. Vicente expôs os problemas dos postos
de saúde, como eu disse, dos quais os vereadores nem fazem questão de saber que
existem. Enquanto Vicente fazia sua explanação, alguns vereadores, demonstrando
total indiferença, assinavam papéis, mexiam nos papéis, nas canetas e etc. Só
não jogaram dominó porque deve ser proibido na Casa de Leis. Atrás do Vicente
estavam os familiares dos falecidos.
Vicente começou sua
explanação dando ênfase na questão orçamentária e financeira. Não vou falar disso
aqui porque quero mostrar apenas a parte principal da questão. Vicente relatou
o seguinte:
Em
Camanducaia, recentemente faleceu a Sra Alcídia Siqueira da Silva, no dia 18/09/2013.
Segundo relatos da família, a dona Alcídia começou a passar mal. Imediatamente
solicitaram a presença de uma ambulância. Ao chegar à ambulância, a enfermeira
pegou no pulso da dona Alcídia. Estranhamente, a enfermeira disse à família que
voltaria em seguida e nunca mais compareceu. Depois de um tempo os familiares,
desesperados, novamente entraram em contato com a Santa Casa, que informou não
dispor de ambulância. A senhora veio a óbito e ficou por isso mesmo.
Depois Vicente relatou
outro caso:
No
dia 8 de setembro, a Sra. Noêmia Palma foi chamada, pois seu pai se queixava de
fortes dores e seu irmão disse a ela que já havia solicitado uma remoção via
ambulância, e a Santa Casa informou que não dispunha de nenhuma! Um atendente
do hospital informou à Sra. Noêmia que ligasse ao almoxarifado da prefeitura,
pois lá encontraria a enfermeira chefe e somente ela poderia autorizar ou não a
liberação de um transporte! Após contatar um rapaz no almoxarifado e receber um
monte de desculpas, resolveu apelar para uma vizinha e resolveu a questão do
pai, transportando-o até à Santa Casa. Estranhamente dia 8 de setembro era um
domingo! A prefeitura repassa mais de 100 mil [ 160 mil por mês] Reais por mês à Santa Casa para os doentes e
enfermos receberem este tipo de tratamento? Está certo isso?? Esta Casa
concorda com isso?? Enfermeira no almoxarifado em pleno domingo?? Ou ela não
estava de serviço??
Depois Vicente relatou
sobre uma gestante que fora mal diagnosticada e teve que ser levada às pressas
pelos próprios familiares à Extrema, onde deu à luz duas horas depois de um
médico em Camanducaia ter-lhe dito que retornasse sete dias depois. Para o
médico daqui, as dores eram decorrentes de uma infecção, e não do prenúncio do
parto. Depois metem o pau nos médicos cubanos! Lembrando que tudo o que Vicente
relatou foi corroborado pelas testemunhas ali presentes, por pessoas as quais o
tinha como seu porta-voz. Vicente também falou da falta de conhecimento do
chefe de gabinete e da Secretária de Saúde em relação ao não funcionamento do compressor
usado pelo dentista do posto de saúde de Monte Verde, que está inativo há 12
meses. Comunicação, eis um dos grandes problemas. Como pode nem prefeito, nem
vereador e nem secretário de saúde ficar sabendo dessas coisas? Eu mesmo, ao
ter conhecimento desses problemas dias antes da reunião, falei com o chefe de
gabinete e lhe sugeri uma reunião com os funcionários dos PSF’s, já que muita
coisa não está sendo corretamente filtrada para o prefeito e secretário de
saúde. Como pode um médico não cumprir o plantão e não sofrer nenhuma punição?
Até quando isso vai acontecer?
Dando continuidade,
Vicente relatou mais um caso que infelizmente veio a óbito.
(...)
Mas aí o esperado acontece! Um crime anunciado se concretizou! Crime este
rotulado por omissão de socorro, por falta de médico de plantão, falta de uma
enfermeira chefe, e falta de coordenadora de saúde. Estas informações são da
família do Sr. Israel Nogueira de Macedo, que faleceu no último dia 27 nas
dependências do PS de Monte Verde. Ele deu entrada no PS por volta das 11:40h e
2 horas depois ele morre nos braços de um desesperado filho, por falta de um
médico para atender, sem a presença de uma enfermeira chefe para medicá-lo ou
fazer uso de um desfibrilador e muito menos da coordenadora que NUNCA
providenciou substitutos para os faltosos! A própria coordenadora só apareceu
no PS por volta das 16:00h, pouco antes da chegada dos policiais militares que
confeccionaram o BO na presença do filho do falecido, o Sr. Josmar Nogueira de
Macedo.
Depois Vicente falou da
justificativa da médica que faltou, na qual ela alegou ter sofrido uma queda e
ter passado por uma cirurgia, mas sem antes avisar a coordenadora que acabou
não providenciando um substituto. Segundo moradores de Monte Verde, a própria
coordenadora pouco fica no PS.
Vicente falou da pouca
importância dada à saúde, comparando com outros quesitos, como obras e eventos
festivos. Assim que terminou a explanação do Vicente, o Presidente da Câmara
passou a palavra para algum vereador que quisesse comentar, e o que percebi foi
o total despreparo de todos os vereadores ali presentes para tratar de um
assunto tão sério. Assim que o Presidente perguntou se alguém queria falar
alguma coisa, o silêncio tomou conta; quase dava pra ouvir os grilos cantando
lá fora. Eis que a vereadora Tânia tomou a palavra. Ela lamentou perante os
familiares das vítimas e falou resumidamente, usando o famoso gerúndio no meio
político, que é quando ouvimos coisas do tipo: “Estaremos providenciando”; tudo
com “ando”. O presente não tem vez no meio político. Só se vive para o futuro,
por isso somos afetados por outra síndrome: a Síndrome do Gerúndio. A vereadora
falou de um projeto que está para ser concretizado, no qual haveria uma
parceria entre prefeitura e Associação Beneficente de Monte Verde (ABMV). Uma
parceria entre o setor privado e público. Bom, para quem quiser ficar mais por
dentro, sugiro que procure a vereadora para uma explicação mais detalhada, já
que ela própria não estava muito por dentro de como o projeto vai funcionar. É
a Síndrome do Não Sei e do Gerúndio aqui presentes.
Para concluir, não
poderia deixar de citar aqui mais um exemplo de indiferença dos vereadores para
com as pessoas que estavam ali presentes. Após a vereadora Tânia fazer sua
explanação, o Presidente simplesmente disse: “Vamos abordar outro assunto.”
Pronto, aí foi “The End”. Nem os familiares das vítimas não entenderam, pois
são pessoas que não estão acostumadas com a burocracia e o corporativismo
existente na alma dos nossos políticos. O assunto se encerrou, pois mais nenhum
vereador teve massa cerebral suficiente para opinar. Como eu já freqüentei muitas
reuniões da Câmara, posso lhes dizer que um vereador dificilmente é o que diz
ser fora da Casa de Leis. Aqui fora passa a imagem de ser batalhador das causas
sociais, altruísta, mas lá dentro... lá dentro é um corporativo, como se fosse
uma máquina. Pois foi isso que presenciei nesta reunião. Pessoas sendo tratadas
com indiferença pelos vereadores.
Quero deixar bem claro
que este meu artigo não tem como fim fazer nenhuma politicagem. Neste artigo eu
não sou de oposição e nem da posição. Neste artigo sou um homem revoltado com o
sistema. O conselho que dou a todos os leitores, é que cobrem seus direitos.
Façam com que vereadores, prefeito e secretários cumpram com seus deveres.
Cobrem! Vocês mesmos podem fiscalizar. Para isso vocês têm que conhecer seus
direitos. Abaixo, disponibilizo um link de um artigo que escrevi sobre os
direitos que você tem. Muito obrigado a todos!
Link Sugerido: http://camanducaiahistory.blogspot.com.br/2013/08/odireito-saude-na-constituicao.html