O
mundo das drogas é desesperador, um inferno. Só para quem convive com pessoas
que são viciadas podem perceber que o uso de drogas não é tão inofensivo como
alguns segmentos da indústria cultural e até movimentos pró-drogas querem nos
passar. A droga não destrói somente o indivíduo viciado. Destrói também sua
família e amigos.
No
começo, tudo parece diversão. Você vai numa festinha e vê seus amigos falando
da “brisa louca”, do “bagulho da hora” que é dar um “teco num baseado”. Ou eles
te falam também do barato que é cheirar algum produto que te dá a sensação de
prazer, que te dá a capacidade de ficar na “nóia”. Você começa a usar, como se
essas drogas não fossem causar nenhuma diferença na sua personalidade.
Você
começa a se enturmar com os caras descolados, que te oferecem a droga. Se você
não usa, passa a ser considerado um careta. Aí você começa a se influenciar
pela indústria cultural. Se aquele rockeiro da minha banda favorita usava, por
que eu não posso usar? Ele fazia músicas chapadas, muito loucas porque estava
sob o efeito da maconha, ou da cocaína, ou da LSD e etc. Você começa a
imaginar: “Que chapado seria ouvir um reggae estando na brisa!” Aliado ao
incentivo corrompido da indústria cultural e dos “amigos”, você começa a dar
uns “tecos”.
Aí
você lê nos jornais que para se acabar com o crime é preciso descriminalizar o
uso de drogas. Afinal de contas, há correntes de pensamentos que dizem que você
é livre e pode usar o que quiser. Com a droga liberada, segundo essas
correntes, não haveria o traficante, pois você encontraria a droga em qualquer
comércio legalizado. Não haveria crime. Pois bem, esse pensamento parece muito
inofensivo, mas como eu disse, é preciso conviver com pessoas que são livres
para consumir, mas são escravas do consumo. São dependentes de produtos que
lhes escravizam na alma, que lhes tiram o apetite, que lhes faz ficar
violentas, que lhes faz sentir dor. Desse tipo de “liberdade” nenhuma corrente
de pensamento pró-droga fala. Por isso conheceremos um pouco da vida de João
Blota, o homem que venceu a luta contra o crack.
João
Blota é autor do livro nóia, o poder
tentador de nossas fraquezas. O livro é narrado em primeira pessoa, porém
quem se encarregou de escrever as memórias de João Blota foi Rafael Junior.
João Blota nos conta toda a sua vida, desde a infância até a vitória contra o
vício. Foram 13 anos de uso contínuo dos mais variados tipos de drogas.
Nascido
em janeiro de 1975, em São Paulo, João Blota começou a usar droga aos nove anos
de idade. Por influência de um menino de 15 anos, cheirou benzina. Despejou um
pouco do produto numa toalha e cheirou no banheiro. Gostou da sensação, da
“nóia”. A partir da primeira experiência, começou a cheirar todos os dias. Como
desculpa, pedia benzina para os familiares, dizendo que era para limpar
cabeçotes de vídeo K7. Pronto, João poderia ficar na nóia quando quisesse e com
uma boa justificativa: limpar os cabeçotes.
João
não estava satisfeito. Queria experimentar outras drogas. Queria ser um
viajante do mundo das “nóias”. Cheirava tudo pela frente, na busca de
alucinações. No livro, João descreve as alucinações nos seus mínimos detalhes.
Fala também da sua mudança de comportamento já no início do uso. Era um menino
que vivia no banheiro e no quarto se drogando. Ele enfatiza também o vacilo da
família, que não percebeu logo no início.
João
foi evoluindo em relação ao uso das drogas, partindo dos produtos de limpeza,
passando pela maconha, cocaína, álcool e muitas outras, até chegar na droga
pela que se apaixonou: o crack. Fala também do cotidiano na escola, onde teve
acesso aos “amigos” que o ajudaram no desenvolvimento da sua derrocada. Foi
pela influência e contato com esses “amigos” que João teve acesso à “bocada”
dos traficantes na favela, lugar onde passaria a fazer parte do seu cotidiano.
Passou a trocar o dia pela noite. De dia, dormia e de noite ia para as festas
em casas de jovens de classe média, onde o consumo de cocaína e demais drogas
era liberado. Relata também como percebia o sumiço dos móveis dessas casas.
Móveis trocados por drogas pelo dono.
Viciado
em crack, João também passou a roubar pertences de casa para trocar na bocada.
Nem roupas tinha mais. Começou a andar todo desleixado, com a aparência física
deteriorada a cada dia. A família, a família imaginava que ele estivesse
doente. Realmente estava, mas não era uma doença qualquer. Nem perceberam que
ela já estava no fundo do poço, no inferno do mundo das drogas. A convivência
com bandidos e viciados, fazia com que a morte estivesse presente o tempo todo.
O livro é cheio de detalhes sobre esse inferno pelo qual João passou. Eu estou
apenas fazendo um breve resumo. João escapou da morte em diversas ocasiões:
perseguição policial, tiroteio na favela, arma que falhou ao ser disparada
contra seu peito, rachas com o carro e etc. A vida de João era um inferno, mas
ele não tinha forças para deixá-la.
João
passava a noite com ratos nos becos, usando crack. Usava a droga em lugares
escuros e nojentos, que fediam à merda e urina. Era um consumidor industrial da
droga, fumando 40 pedras por dia.
Bom,
você deve estar se perguntando como João conseguiu se livrar do mundo das
drogas. A resposta: família. A família foi imprescindível para que João
renascesse. Assim que sua mãe descobriu que ele era um viciado, ela comprou a
briga. Passou por cima de tudo para salvar seu filho, inclusive estar ao lado
dele enquanto se drogava. Ela ia na favela junto com o filho, com medo de que
ele fosse morto pelos traficantes. A família de João, assim que descobriu, o
abraçou. Ele passou por diversos tratamentos, ficou em clínicas, mas nada
adiantava. Mas João também amava de mais sua família. Foi por causa desse amor
que ele decidiu se mudar para uma cidadezinha do interior do Ceará e lá começou
sua batalha contra a morte. Nessa parte do livro João nos fala do terror da
abstinência, que é quando o corpo começa a doer pela falta da droga. Não só o
corpo sofre, mas a mente também, com várias horas de alucinações. Lá no Ceará
João ficou dois anos sob os cuidados de pessoas amáveis, que o abraçaram como um
filho.
Como
podemos perceber neste breve resumo, tudo começa como algo inofensivo e é aí
que está o perigo. João começou cheirando benzina. Um simples produto de
limpeza foi a porta de entrada para o inferno que viria a seguir. O livro
também é cheio de dicas sobre como detectar o uso de drogas por filhos e
alunos. João nos fala da mudança de comportamento e dos resquícios que os pais
podem encontrar nos quartos, no carro, nas roupas e no corpo dos filhos. É um
livro imprescindível para todos que estão envolvidos na luta contra as drogas.
Agora vamos conversar com João Blota, o homem que venceu a luta contra o crack.
A entrevista se deu pelo chat do facebook e foi devidamente autorizada pelo
entrevistado. Ao final da entrevista, colocaremos a referência do livro, para
quem quiser ter acesso a esta grande história de vida de um vencedor.
DANILO
SANTOS: João,
primeiramente gostaria de agradecer pela entrevista que está me concedendo. Li
seu livro e achei linda a sua história de vida, da qual podemos tirar muitas
lições. É uma linda história de vida porque apesar de tantas coisas ruins que você
passou por conta do contato com as drogas, podemos dizer que você conseguiu
escrever um final feliz. Você conseguiu vencer a sua guerra contra o crack. Mas
você ainda continua lutando essa guerra, mas agora para salvar outras pessoas
que passam pelo mesmo que você passou. Agora você dá palestras de
conscientização em várias instituições. Nesta sua luta, você já conseguiu ver
resultados positivos, como por exemplo, pessoas deixarem de usar drogas após
assistir a alguma palestra sua?
JOÃO
BLOTA: Sim,
certa vez estava realizando uma palestra com a Radio Jovem Pan e quando
terminei, um garoto de aproximadamente 19 anos me procurou e disse que nao iria
assistir à palestra, mas nao sabe porque resolveu ficar em vez de sair para
fumar crack, e deu seu depoimento ao vivo na Jovem Pan dizendo que iria parar
de usar drogas, pois a palestra mexeu muito com ele , principalmente quando
falei sobre as mães. Nao sei se ele realmente parou, mas naquele momento ele parou para pensar e
isto faz uma grande direfença.
DANILO
SANTOS: No
seu livro, você deixou seu E-mail na orelha de capa. Após as vendas do livro
muitas pessoas entraram em contato, como usuários ou familiares de usuários de
drogas? E quando você lê esses e-mails você consegue perceber semelhanças com o
seu passado?
JOÃO
BLOTA: Recebo muitos emails de todo o Brasil. São mães,
pais, familiares e amigos pedindo socorro, querendo uma orientação. O problema
das drogas só muda de endereço e personagem.
DANILO
SANTOS: No
livro você diz que encara a luta contra as drogas uma missão. Durante esses
anos em que você está na luta, você já foi hostilizado publicamente por adeptos
da legalização da maconha?
JOÃO
BLOTA: Realmente esta
é a missao da minha vida. Talvez por isso nunca fui hostilizado. Não sou contra
as drogas porque estudei, mas sim porque passei na pele e isto e muito forte.
DANILO
SANTOS: Você
considera o excesso de liberdade que os pais dão aos filhos uma das causas que
levam crianças e adolescentes a entrarem no mundo das drogas? Quais as dicas
que você dá aos pais e professores para que os mesmos possam detectar o
problema antes que ele se torne crônico?
JOÃO
BLOTA: Amor!
Atenção! Estar presente no dia a dia, enfim, a droga sempre preenche os espacos
vazios e se não houver espaço ela não entra!
DANILO
SANTOS: Você
considera o papel da religião um grande auxílio na luta contra as drogas?
JOÃO
BLOTA: Não
!Religião não! DEUS sim, a única forma
de combater a droga é AMOR, por isso a mãe dificilmente desiste do filho, pois
não existe amor maior no mundo que o amor de uma mãe!
DANILO
SANTOS: No
livro você diz que o amor à família foi fundamental para que você deixasse o
crack. Neste sentido, o que você tem a dizer para os familiares que sofrem por
algum viciado em seu seio? O que você tem a dizer aos pais de filhos viciados?
JOÃO
BLOTA: A
família é o porto seguro que você pode voltar, o que posso dizer aos pais e que
não abandonem seus filhos mesmo que tudo pareça perdido , e para os filhos
viciados o que posso dizer é que no final você vai ver que sua mãe foi a única
que ficou! Então pensa na sua mãe antes que seja tarde!
DANILO
SANTOS: João,
mais uma vez gostaria de agradecer por me ceder esta entrevista. Se você quiser
deixar seus contatos para que os leitores interajam contigo, esteja á vontade.
Seu livro é de grande ajuda para toda a sociedade. Muito obrigado!
JOÃO
BLOTA: Danilo
eu que agradeço esta oportunidade. Meu email é joao.blota@gmail.com e gostaria
de dizer que sou eu quem agradeço cada pessoa que me procura, pois assim posso
dar mais um passo na missão que Deus me
concedeu.
BIBLIOGRAFIA
BLOTA,
João/ JÚNIOR, Rafael. Nóia- o poder
tentador de nossas fraquezas. São Paulo/SP: Editora 300, 2009.