segunda-feira, 2 de setembro de 2013

QUANDO A POLÍTICA SE TORNA EFETIVAMENTE PÚBLICA: o medo da classe política pela popularização da informação.

Camanducaia foi uma das cidades sul-mineiras em que podemos dizer que a imprensa teve seu auge. Foram dezenas, senão centenas de jornais já impressos por aqui, fato até lembrado pelo memorialista Benedito Silva Santos no seu livro "Fragmentos da História de Camanducaia." Sabemos da existência dos jornais que eram impressos aqui porque temos colecionadores de acervos que pesquisam sobre o tema, citando aqui o Sr. Jaime Pina, que está prestes a publicar um riquíssimo trabalho sobre o assunto. Para mim que sou historiador, um trabalho como o do Sr. Pina será de uma fundamental importância, principalmente para me aprofundar mais no entendimento das estruturas políticas em sua diversas temporalidades. Durante a minha pesquisa, tive pouco contato com materiais relacionados à informação pública, como jornais e periódicos. Muitos colecionadores restringem o acesso. Mas a pergunta é: desde quando a informação é pública?

Entendendo-se público como domínio de todos, será que as informações que partem do que se entende por "oficial" é de domínio coletivo? Logicamente que é público só na teoria. Vamos analisar o por que. 

Atualmente nós opinamos pelas redes sociais. Nós discutimos, xingamos, denunciamos e etc, porém para a classe política, só é válida a opinião que sai nos jornais. Só é válida a opinião que é oficial. Hoje, qualquer cidadão com acesso à internet pode criticar o vereador, o prefeito, o deputado, até o presidente da República. Se você tem o dom de opinar coerentemente, você é um perigo para aquele vereador que só opina no meio oficial. Se fosse na época em que o coronelismo vigorava, com certeza  seria um ótimo candidato a amanhecer com a boca cheia de formiga. Vamos fazer uma breve comparação do passado com o presente.

Na década de 1930, eclodiu em Camanducaia uma guerra entre duas famílias oligárquicas: os Dantas e os Escobar. Os Escobar mandaram efetivamente da primeira década até a década de 1930. Com a mudança conjuntural relacionada à Revolução de 1930, os Dantas começaram a ascender politicamente até derrotarem os Escobar em 1937. Neste período não havia Lei. Camanducaia era uma terra de ninguém. Pessoas eram assassinadas em praça pública por bandoleiros patrocinados pelos que hoje são considerados heróis segundo a História Oficial. O crime era oficial. A morte era pública. 

Neste período, haviam dois jornais nos quais situação e oposição se vociferavam reciprocamente: "A Defesa", dos Escobar, e a "Folha do Povo", dos Dantas. Fazendo uma analogia, podemos dizer que esses jornais era como o facebook de hoje. Era onde os políticos lavavam a roupa suja. Mas continuando na analogia, há uma pequena diferença: hoje qualquer um tem livre acesso de opinião, enquanto que naquela época, só quem tinha o poder nas mão podiam opinar. A maioria do povo era analfabeto e não votava. Quando um analfabeto votava, era por causa das fraudes eleitorais que originaram os currais eleitorais, ou porque aprendia a assinar o próprio nome. Portanto, se você vivesse naquela época e você fosse um analfabeto, sua opinião não faria diferença alguma. Você não teria a quem recorrer, a não ser à sua própria arma. Tenho algumas fontes aqui que não postarei no blog porque vou usá-las no mestrado, mas elas se referem a este período sem Lei em Camanducaia. O que vou postar, são alguns fragmentos do jornal "A Defesa" para que vocês tenham um pouco de noção de como era o controle da opinião e como era violenta a política camanducaiense. Num destes recortes, vocês poderão ver até a citação do nome de um capanga e constatar que até as praças públicas não eram tão públicas assim.

  

Como podemos notar, a informação não era pública e muito menos democrática. Os políticos apenas dava a sua versão dos fatos e ninguém mais além deles tinha poder em fazê-lo. O que podemos concluir, é que em Camanducaia nunca tivemos, ou pouco tivemos, liberdade de expressão. Os jornais, como sabemos, são patrocinados por comerciantes ou pelos próprios políticos. Portanto, sempre haverá uma mão invisível nas informações que você lê. Por isso há que se ter um raciocínio crítico ao analisar a linha editorial do jornal, a quem ele se destina, qual sua ideologia, quem o financia, quem ele exalta, em quem ele bate e etc. 

Neste sentido, com a tecnologia e a Globalização, o poder sobre a informação ficou mais descentralizado. Um blog como este, não precisa de nenhum patrocinador e não é alvo de nenhuma censura. Já os jornais, estão à mercê de perderem patrocínio, por isso os políticos temem a opinião que você dá nas redes sociais. Eles não podem fazer nada, por isso nem comentam, pois não querem gerar polêmicas que afetam sua imagem ou seu marketing político. Eles se sentem mais à vontade nos jornais, já que não é qualquer um que pode publicar artigos ou ter o direito de resposta. Aí é que começamos a entender o por que de suas opiniões serem exclusivamente oficiais. Se você quiser ser ouvido na Câmara de Vereadores, você tem que se inscrever dois dias antes e se tiver vaga, você tem direito a falar por 15 minutos. Só que qual é a força da sua opinião na Câmara? R: NENHUMA! Sabe por que? Porque você só meia dúzia de pessoas irão te ouvir. Neste sentido, ao não consegui difundir a sua crítica para um grande número de pessoas, sua opinião não afetará em nada a imagem de um político corrupto, por exemplo. Por isso sou totalmente favorável a uma maior descentralização informativa relacionada à política e aos políticos. Poderíamos pensar no caso de transmitirmos o áudio da reuniões ordinárias numa rádio local, por exemplo. O que devemos fazer, é pensar em um modo de tirarmos os políticos desta redoma em que vivem. Político que tem medo de rede social, não pode ser levado a sério, pois todos nós, independentemente de qual área profissional sejamos, devemos nos adaptar às mudanças. Eu uso o facebook para dar aulas particulares de História, por exemplo. Por que eu, enquanto vereador, não poderia responder às suas indagações pelo meio virtual? Se eu considerar válida exclusivamente a opinião que é dada na Câmara, eu com certeza parei no tempo. 

Bom, galera, não vou me estender mais porque não quero fazer um texto longo e complicado. O que quero que vocês entendam é que a informação é uma arma poderosa se bem usada. Não podemos mais permitir que continue sobrevivendo em Camanducaia uma mentalidade arcaica em relação à política. Abraços a todos!

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