Por: Danilo Santos
Ao assistir à
entrevista de Luciana Genro no programa “The Noite”, do Danilo Gentili, os
telespectadores se debateram nas redes sociais. Uns defendendo Luciana Genro e
outros defendendo Gentili e Roger. O foco da polêmica foi o Socialismo,
ideologia a qual segue o partido da candidata.
A grande questão é: até
que ponto tal debate é produtivo? Faço esta pergunta por que o debate em torno
do Socialismo nas redes sociais sempre vem acompanhado de algumas frases
prontas do tipo: “O Socialismo matou 80 milhões”, “Na Rússia.....”, “Em
Cuba....” “Na China....” “Na África....”. Toda vez que um candidato ou
candidata como Luciana Genro vai a um programa de televisão, sempre aparecem as
mesmas frases prontas. Como se Luciana Genro, numa possibilidade de ganhar a eleição, fosse capaz
de fazer um movimento de massas camponesas e operárias para fazer uma revolução
armada. Analogias como essas é o que denomina-se anacronismo.
Por mais que façamos um
esforço intelectual para corroborar com a idéia de que o “Socialismo”
stalinista e os demais que “mataram 80 milhões” não fossem deturpações das
propostas de Marx, a pergunta que eu faço é: em que medida há alguma
possibilidade de no Brasil haver um movimento de massas com o objetivo de tomar
o poder? Ora! Isso é condição primordial para se realizar o Socialismo na
prática. Caras como Danilo Gentili e Roger pecam em fazer analogias à URSS sem
levar em conta o contexto histórico brasileiro. No Brasil, em nenhum momento da
história o povo participou efetivamente de um movimento revolucionário em que
tivesse como objetivo tomar o poder. Na Independência, o povo esteve ausente.
Proclamação da República, ausente. Revolução de 1930, ausente. Mesmo no golpe
militar de 1964 não houve nenhuma reação que desencadeasse uma grande guerra
civil, caindo por terra o discurso do “perigo comunista”. O que tivemos foram
pequenos grupos de guerrilheiros.
Partindo dessas breves
considerações, é muita imaturidade intelectual demonizar uma candidata
socialista com analogias anacrônicas. Se quisermos criticar o socialismo de
Luciana Genro, devemos levar em consideração as propostas socialistas dela para
o Brasil. Mujica é socialista e nem por isso uruguaios estão sendo fuzilados.
Luciana Genro disse na entrevista que é bom termos utopias, pois mesmo que não
alcancemos o topo de todos os sonhos para uma sociedade melhor, a utopia nos
faz subir alguns degraus. No passado, quando crianças, mulheres e homens
morriam de fome durante a Revolução Industrial, quando trabalhavam 16 horas
diárias em fábricas imundas e onde se acidentavam e não tinham direito algum de
indenização, a ideologia socialista serviu a essa massa na luta por melhores
condições de vida. Nesse sentido, Luciana Genro foi sincera ao dizer que tem
lado.
Da mesma forma que não
podemos radicalizar sobre o capitalismo, não podemos sobre o socialismo. A
Humanidade conquistou muitos avanços com o capitalismo, mas foi preciso
coexistir com o socialismo, caso contrário, muitos direitos da classe
trabalhadora jamais existiriam. Agora, radicais há de ambos os lados, tanto do
socialismo como do capitalismo. Temos como exemplo os genocídios de Stalin,
como temos também os genocídios neo-colonialistas na África por conta do
capitalismo. Poderíamos citar muitos exemplos catastróficos de ambas
ideologias, levando o debate para um fanatismo exagerado.
O que devemos levar em
consideração é que vivemos uma outra realidade. O Brasil não é uma Rússia do
início do século XX e nem a esquerda de Luciana Genro difunde luta armada das
massas para tomar o poder. O socialismo de Luciana Genro se limita a dar
melhores condições de vida aos mais pobres, mas por vias constitucionais.
Portanto, não faz o menor sentido fazer analogias com Stalin.
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