PACIENTES AGUARDAM POR HORAS PARA SEREM ATENDIDOS NA SANTA CASA DE CAMANDUCAIA
POR: Danilo Antonio dos Santos
Eram quase cinco horas da tarde quando recebi uma chamada no celular. Do outro lado da linha, um cidadão me chamando na Santa Casa para que eu fizesse uma matéria sobre o desespero de mais ou menos 100 pessoas que não conseguiam atendimento médico. Chegando lá, a situação era realmente desesperadora. Crianças, jovens, homens, mulheres e idosos aguardavam desde manhã por um simples atendimento. Muitos deles, não aguentando mais esperar, iam embora. As atendentes recebiam as queixas de revoltas dos que ali estavam, mas como sabemos, elas não têm nenhuma culpa. Apenas estavam ali para cumprirem ordens. Segundo testemunhos, havia apenas um médico de plantão.
Atualmente é de conhecimento de todos nós a deficiência do sistema de saúde brasileiro. Um sistema que caminha cada vez mais para a mercantilização da vida, onde vive mais quem pode pagar mais. Os médicos do país, não todos, não querem atender em cidades do interior e quando o fazem, tratam as pessoas como se elas fossem uma "coisa qualquer". O que vemos nos hospitais brasileiros é uma total falta de respeito para com a vida. Não que eu tenha presenciado isso aqui em Camanducaia, mas pude perceber um médico mais preocupado com as horas do seu plantão do que com as pessoas que ali esperavam. Mas não podemos culpabilizar o médico, pois ele reproduz aquilo que o sistema exige. O sistema, o sistema exige quantidade e não qualidade. O sistema não nos enxerga como seres humanos. Ele nos enxerga como "contribuintes", possuidores de números os quais acreditamos ser nossa identidade. Você, eu e nós, somos vistos como acessórios para manter a "máquina" funcionando, por isso, quando doentes, somos descartáveis.
Abaixo, deixo alguns depoimentos que gravei em áudio e depois transcrevi. Espero que gostem do blog. Obrigado a todos!
TEREZA SILVA: Eu estou com a
minha menina desde ontem aqui, ela está com forte infecção de urina. Pediram
exame, não deu remédio nenhum pra tirar a dor, fiquei esperando até agora
esperando sair o resultado e diz que não vai me atender; e com bebê ainda no
colo. Eu sou da roça, moro no Campo Verde. Vim com carona com os outros pra
poder chegar aqui e não ser atendida. Não tinha médico e agora não quer atender
também. Eu estou com ela (filha) e com a bebezinha no colo, minha filha com dor e diz
que não vai atender ainda. Isso é um absurdo! Isso tem que ser mudado. Tem
médico e não quer atender!
NEIDE RODRIGUES
MACIEL:
Eu cheguei eram 8 horas da manhã pra ser atendida e já tem mais de 100 pessoas.
Muitos já foram embora, estou sem almoçar. Um senhor de 90 anos de Monte Verde,
veio e foi embora porque não tinha dinheiro pra pagar taxi e ia de Tupic. Ele
precisou ir embora e não foi atendido. E aqui nós estamos até agora aqui (17:22
horas), o médico acabou de falar “Não vou atender todo mundo porque o meu
horário é às 19:00 horas. Reclame lá na porta!” Essa é a situação nossa aqui de
Camanducaia, que todo mundo saiba! Eu estou aqui pela primeira vez, sou
professora do Município e estou totalmente arrasada de ver como que o povo é
tratado aqui. É a primeira vez que eu estou passando por esta situação. Mas eu
estou feliz porque eu pude sentir na pele juntamente com eles o que eles passam
aqui, quem não tem dinheiro pra pagar a consulta. Não querem atender porque
chega emergência e é um médico só. Então fica uma situação organizada entre
eles lá. Nós não sabemos porque que eles aceitam uma situação de ficar um
médico só.
MANOEL DE
MORAES: O
problema meu é problema de próstata. Eu estou lutando, faz tempo que estou lutando.
Estou só esperando uma guia dele (médico) pra levar pro Dr. Luís. Tem que ter
autorização dele pro Dr. Luís lá de Extrema poder organizar. Faz dois meses que
eu estou lutando e fiz exame e o médico disse que o problema meu só resolve com
uma cirurgia com urgência. Então o médico está me enrolando e chegou uma hora
eu fui num médico em Pouso Alegre e ele pediu R$ 12.000,00 pra fazer a cirurgia.
Como eu não posso pagar, que a gente vive da aposentadoria, então eu estou indo
nos médicos tudo aí e lutando, um joga pra um, um joga pra outro.
ELZA DA SILVA
PÉREZ: O
problema é com o meu marido. Ele está com as mãos amortecidas, com as pernas
amortecidas, pressão alta. Chegou aqui ontem, tomou injeção, mandaram ir embora
e mandaram vir hoje. E daí chega aqui hoje, faz o Raio-X e está aqui até agora
esperando. E pra ele sair dali não sei como nós iremos tirar ele dali porque
tem que levar ele segurando pelo braço pra procurar um taxi pra levar ele
embora ainda, porque carro eles não dão pra irmos embora. Desde às 09:00 horas
aqui.
VICENTE DA MOTTA
PAES: Eu
vim pra passar no médico aqui às 6 horas da manhã pra marcar e estou até agora
esperando. E acho que vou desistir, vou embora.. O problema meu é um
pelote que saiu aqui (nas costas) faz uns cinco anos e agora ta começando a
doer. Então eu quero ver o que está acontecendo.
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